Conass e Conasems defendem manutenção de leitos abertos durante pandemia; demanda irá continuar, afirmam

O professor de epidemiologia da Universidade Federal do Ceará Luciano Pamplona disse considerar precipitada a discussão sobre os critérios para indicação da vacina contra Covid-19 no País. Durante debate organizado pelo Conass sobre as lições da pandemia do novo coronavírus para o futuro do SUS, Pamplona ressaltou a necessidade de se respeitar etapas. “A vacina ainda não está pronta”, observou.

Mediado pelo assessor técnico do Conass, Nereu Henrique Mansano, o debate contou com a participação do epidemiologista Wanderson Oliveira, ex-secretário de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde; do secretário-executivo do Conasems, Mauro Junqueira e do secretário-executivo do Conass, Jurandi Frutuoso.

Durante a discussão, realizada na última sexta, Pamplona destacou o rápido acúmulo de conhecimento em torno do novo coronavírus. Desde 24 de janeiro, quando o surto foi formalmente documentado, 70 mil artigos científicos foram produzidos sobre o novo agente infeccioso, dos quais 2 mil no País. Os números retratam a velocidade da construção do conhecimento em torno da doença. Com mais informações, argumentou, há também um aprimoramento nas respostas e na forma do atendimento dos pacientes. A atenção primária, é um bom exemplo. No primeiro momento, a atuação desses serviços foi limtada. “Hoje se sabe da importância da atenção básica para o atendimento inicial de pacientes suspeitos e confirmados.”

Para o professor da Universidade do Ceará, a mudança no conhecimento e das condições enfrentadas por gestores ao longo da pandemia devem ser consideradas durante as avaliações de órgãos de controle. “Não se pode julgar gestores por decisões adotadas no passado com informações e condições que temos atualmente”, observou.

O secretário executivo do Conasems citou, por exemplo, que uma máscara que custava R$0,9 passou, num determinado momento da pandemia, a custar R$ 5. Alguns produtos, como álcool em gel, faltaram. Sem falar em equipamentos que, durante um período, não eram encontrados no mercado.

Durante o debate, Pamplona lembrou das imagens retratando a construção de um hospital para atendimento exclusivo de pacientes com Covid-19 na China. Fotos das várias etapas da obra foram divulgadas mundialmente e se transformaram num símbolo da rapidez da mobilização naquele país. “O SUS também deu uma resposta gigantesca. Foram 15,6 mil leitos de UTI colocados à disposição dos brasileiros em tempo recorde. Em um cenário adverso para a aquisição de equipamentos, materiais e insumos”, afirmou o secretário executivo do Conass. “Muito se fez e muito se faz”, completou Frutuoso.

Mauro Junqueira, tem avaliação semelhante. Dificuldades iniciais foram superadas e o sistema conseguiu organizar o atendimento, evitando cenas como a que foram vistas em outros países, de corpos de vítimas da doença que morreram em casa, sem socorro.  “O SUS sai fortalecido da crise”, constatou Junqueira.

 Tanto Frutuoso quanto Junqueira, no entanto, foram unânimes em destacar que, apesar do conjunto de ações desenvolvidas até agora para pandemia, há muito ainda a ser realizado e desafios a serem vencidos. Reduzir, por exemplo, o grau de dependência para a aquisição de insumos e equipamentos, como foi identificado no início da crise sanitária. E, neste momento, reforçar medidas de proteção individual e distanciamento social “A população esqueceu-se de que estamos numa pandemia”, afirmou o secretário-executivo do Conass. Frutuoso alertou não ser prudente desmontar a estrutura que foi criada para atendimento da população. “Temos uma epidemia em curso, que de uma hora para outra pode recrudescer.”

Oliveira observou que a epidemia no País vive um momento de desaceleração, com redução do ritmo de casos novos. “Temos de aproveitar essa janela de oportunidade para perceber o que foi acertado e o que precisa ser melhorado”, observou.

Junqueira ressaltou a necessidade de se garantir recursos para o atendimento à saúde no próximo ano, sobretudo pelo fato de que, ao longo de 2020, 1 bilhão de atendimentos ambulatoriais e hospitalares deixaram de ser feitos, em virtude da pandemia. “Os serviços estavam abertos, mas atendendo pacientes com Covid-19”, lembrou. O secretário-executivo do Conasems alertou ainda para dificuldades no próximo ano, quando é esperada a mudança de pelo menos 4 mil secretários municipais de saúde. “Serão realizadas eleições este ano, a composição irá mudar.”

Frutuoso também destacou a gestão em saúde. “É prioridade. Não há economia forte se não houver um sistema de saúde pública forte. Um país não tem condições de se desenvolver economicamente se as pessoas não forem saudáveis.” Para o secretário executivo, é necessário ampliar a relação entre a academia e a gestão, incorporar, de fato, a telemedicina e trabalhar para maior independência no atendimento, iniciando os passos para a retomada.

Confira a íntegra do debate: 

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