Covid-19: o papel estratégico da Comunicação da Fiocruz

O ano de 2020 começou diferente, com uma série de restrições em todo o mundo por conta do novo coronavírus (Sars-Cov2, causador da Covid-19). Com a pandemia instaurada e novidades frequentes, a doença logo tomou conta dos noticiários, que trazem a cobertura diária de suas complexidades para o público. Designada referência para a Organização Mundial da Saúde (OMS) em Covid-19 nas Américas, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vem atuando em várias frentes, sendo um dos principais centros de produção de conhecimentos sobre a doença, e desenvolvendo estratégias integradas com o Ministério da Saúde (MS) para a promoção da saúde e fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS).

Unidade de atenção, ensino e pesquisa, o Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), através do seu Núcleo de Comunicação, trabalha com o objetivo de transmitir informações seguras e de qualidade sobre a Covid-19, como pela produção de materiais informativos sobre amamentação, gestantes, doadores de sangue, crianças com condições crônicas e microcefalia, entre outros. “Os materiais gráficos são facilitadores, pois funcionam como um complemento visual e viabilizam uma comunicação efetiva a leigos e especialistas”, explica a designer do IFF/Fiocruz, Fernanda Canalonga.

Esses materiais, junto de muitos outros, estão disponíveis no Portal Fiocruz

A busca de informações confiáveis se faz necessária, ainda mais neste momento de tensão, portanto, o Núcleo de Comunicação do Instituto vem fazendo entrevistas com os profissionais de saúde do IFF/Fiocruz, em que orientações sobre saúde mental e alimentação, por exemplo, são compartilhadas para reforçar as medidas de prevenção. Nesse contexto, conteúdos audiovisuais também vêm sendo produzidos para frisar as recomendações, valorizar os trabalhadores, principalmente os que estão na linha de frente, e deixar uma mensagem de esperança para a sociedade. Para ampliar o acesso à informação a respeito do novo coronavírus, além de reiterar a comunicação como fundamental para o direito à saúde, os vídeos contam com a tradução na Língua Brasileira de Sinais (libras), com apoio do Projeto Empregabilidade Social da Pessoa Surda e do Comitê Fiocruz pela Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência, da Coordenação de Cooperação Social da Fiocruz.

A relação direta com os profissionais é essencial, por isso, a responsável pela comunicação interna do Núcleo de Comunicação do Instituto, Suely Amarante, comenta sobre a importância de as ações serem exercidas de forma transparente e eficiente, utilizando ferramentas para atingir e integrar os trabalhadores do IFF/Fiocruz. “Preocupado com a saúde dos seus trabalhadores e com a propagação da doença, o Instituto intensificou a comunicação interna. Além dos veículos já existentes, foi criada uma nova ferramenta chamada Informe IFF a fim de manter o público interno totalmente envolvido com os acontecimentos. A Direção também tem realizado encontros semanais com os trabalhadores e enviado regularmente comunicados com o objetivo de esclarecer as mudanças acerca do atual cenário. Essa iniciativa agrega segurança, transparência e o caminho que está sendo traçado pelo IFF/Fiocruz frente à pandemia”.

Grande aliado na disseminação de conhecimento para a organização dos serviços e melhoria da prática clínica, o Portal de Boas Práticas do IFF/Fiocruz vem recebendo um aumento significativo nos acessos e caminha para a marca de um milhão de visitantes. A partir do impacto da pandemia, além da sistematização de conteúdo para facilitar o acesso ao conhecimento neste período de grande volume de informações, o Portal priorizou também a realização de encontros on-line com especialistas – alguns com quase 2.000 participantes – voltados especificamente à orientação dos serviços de saúde para a prevenção e controle da Covid-19. “Além de ser um potencial instrumento reconhecido por profissionais e gestores do Ministério da Saúde (MS), instituições acadêmicas, secretarias municipais e estaduais e profissionais da saúde, ele exerce função estratégica de disseminação de conhecimento em âmbito nacional, levando as melhores evidências de uma forma sistematizada”, enfatiza a coordenadora de ações nacionais e de cooperação do IFF/Fiocruz e uma das coordenadoras do projeto, Maria Auxiliadora Gomes.

Referência na assistência, ensino, pesquisa e desenvolvimento tecnológico, o Instituto tem como atribuição assessorar o Ministério da Saúde em âmbito nacional na tarefa de desenvolver, coordenar e avaliar as ações integradas, direcionadas à área da saúde da mulher, da criança e do adolescente. Sendo assim, os veículos de imprensa entram em contato diariamente com a unidade para abordar a temática da Covid-19. “A pandemia reivindicou a informação como um dos ativos mais necessários, e isso se reflete no trabalho das assessorias de imprensa da Fiocruz. Com um aumento considerável nas solicitações de informações e de especialistas qualificados como porta-vozes, estamos nos adaptando aos novos desafios, como o trabalho remoto – por exemplo. Agora usamos a opção de que nossas fontes gravem seus próprios vídeos respondendo às perguntas da mídia ou concedam entrevistas on-line. Tudo isso requer uma boa comunicação da assessoria com as fontes que, além de seu compromisso com a saúde dos usuários, também estão comprometidos em manter a população informada”, conta a assessora de imprensa do IFF/Fiocruz, Mayra Malavé Malavé.

O combate às fake news e a força das redes sociais

Conforme declarado pela OMS, “o surto de Covid-19 e a resposta a ele têm sido acompanhados por uma enorme infodemia: um excesso de informações, algumas precisas e outras não, que tornam difícil encontrar fontes idôneas e orientações confiáveis quando se precisa. Nessa situação, surgem rumores e desinformação, além da manipulação de informações com intenção duvidosa. Na era da informação, esse fenômeno é amplificado pelas redes sociais e se alastra mais rapidamente, como um vírus”. Portanto, reforçam que “o acesso às informações certas no tempo certo e no formato certo é essencial!”.

Neste momento em que circulam muitas notícias falsas (fake news), a Fiocruz, ciente de seu papel estratégico na atual conjuntura de enfrentamento da Covid-19 e tendo como base as experiências anteriores do surto da febre amarela e a epidemia de zika vírus, promoveu em fevereiro, antes da OMS decretar pandemia mundial, uma oficina sobre o novo coronavírus para jornalistas de diversos veículos de comunicação. Segundo levantamento realizado, devido a Fundação estar sempre na mídia, por meio de matérias sobre estudos e iniciativas e entrevistas com pesquisadores, os porta-vozes nestes tempos de crise, a presença da Fiocruz na imprensa saltou 448% em março, alavancada pela cobertura do coronavírus.

Com a finalidade de incentivar a prática de informações corretas, o Eu Fiscalizo tem um papel crucial. Lançado em fevereiro, o aplicativo é fruto de um projeto de pós-doutoramento da pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), Claudia Galhardi, supervisionado pela pesquisadora Cecília Minayo, e possibilita que usuários notifiquem conteúdos impróprios em veículos de comunicação, mídias sociais e WhatsApp, exercendo, assim, sua cidadania e o direito à comunicação e entretenimento de qualidade. Em recente estudo, as pesquisadoras analisaram denúncias e notícias falsas sobre o novo coronavírus no Brasil, recebidas pelo aplicativo entre 17 de março e 10 de abril, e os dados revelam que as mídias sociais mais utilizadas para disseminação foram o Instagram (10,5%), o Facebook (15,8%) e 73,7% circularam pelo WhatsApp, sendo que, nesse último, 71,4% das mensagens citam a Fiocruz como fonte de textos, com medidas de proteção e combate à doença.

Muito engajada nas redes sociais, com atualizações frequentes a respeito da Covid-19 e forte interação com o público, a Fiocruz vem ganhando uma legião de seguidores (dados coletados em 8/6/2020): no Instagram, eram 62 mil em março, passando para 164 mil em junho; no Twitter, foi de 14 mil para 72 mil; mas o boom mesmo aconteceu no Facebook, em que passou de 146 mil para 852 mil seguidores. Um vídeo sobre a importância da higienização das mãos – uma das recomendações do Ministério da Saúde no combate ao coronavírus –, idealizado pela Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) do IFF/Fiocruz e produzido pelo Núcleo de Comunicação do Instituto, teve mais de 284 mil visualizações no Facebook da Fundação, que lançou há algumas semanas o Agência Fiocruz de Notícias (AFN) Acessibilidade. Os vídeos semanais reúnem as principais notícias traduzidas para as libras, com áudio e legendas em português, e são publicados nas redes sociais e no canal da Fiocruz no YouTube.

Seguindo o mesmo ritmo, as redes sociais do IFF/Fiocruz, iniciadas em fevereiro de 2019, também vêm crescendo diariamente, com um público bastante engajado. As mídias fazem parte do projeto intitulado “Da dor à ação: explorando narrativas para construção de uma comunicação em aplicativos e redes”, da pesquisadora da Fiocruz Claudia Jurberg, que realiza o trabalho com o apoio da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj) e em parceria com o Núcleo de Comunicação do Instituto. Com um trabalho 100% orgânico, o Facebook do IFF/Fiocruz passou de 1.850 seguidores, em março, para 2.400, em junho. O Instagram já passou de 3.300 seguidores, tendo publicações com alcance entre 1.500 e 2.000 pessoas, como a que alerta para a importância do isolamento social – tema do primeiro CoronaFatos, podcast semanal do Canal Saúde, outra iniciativa da Fiocruz para difundir informação de qualidade no enfrentamento da pandemia.

Sobre a importância do trabalho que vem sendo realizado, a coordenadora de Comunicação Social da Fiocruz, Elisa Andries, ressalta. “A Fiocruz está na mídia de maneira expressiva. Nas redes sociais, por exemplo, alguns posts publicados no Facebook chegaram a alcançar 15 milhões de pessoas. A população confia na Fiocruz e neste momento é importante produzir materiais informativos para que a população saiba como se proteger da doença, além de mostrar o trabalho que vem sendo desenvolvido na instituição para o combate à pandemia, que vai desde a produção de testes PCR até a realização de pesquisas, como o Solidarity, da OMS, que tem o objetivo de gerar evidências científicas para o tratamento da Covid-19, e a construção de um complexo hospitalar em menos de dois meses para doentes graves”.