Distrito Federal – Triagem neonatal garante saúde dos recém-nascidos

Testes na maternidade permitem diagnóstico de dezenas de doenças

Os bebês que nascem na rede pública de saúde do Distrito Federal passam por uma série de exames antes mesmo de deixar a maternidade. A triagem neonatal, que inclui exames como os testes do pezinho, do olhinho, da orelhinha e do coraçãozinho, permitem o diagnóstico de diversas doenças infecciosas ou congênitas – assintomáticas no período neonatal –, o tratamento precoce e a diminuição ou eliminação de sequelas.

O Programa Distrital de Triagem Neonatal coordena a realização do teste do pezinho ampliado que faz o diagnostico de 33 doenças além das seis obrigatórias recomendadas pelo Ministério da Saúde. A cobertura é de 100%. São feitos em média, quatro mil testes do pezinho por mês em todas as maternidades da rede pública de saúde do Distrito Federal. O exame é capaz de diagnosticar doenças como hipotireoidismo congênito, fibrose cística, doença falciforme e toxoplasmose congênita, entre outras.

A coordenadora do Programa, Juliana de Vasconcelos Thomas, diz que o teste do pezinho está bem estruturado no DF e apresenta bons indicadores. “O exame nos permite fazer o diagnóstico de doenças que no período neonatal antes da manifestação clínica”, explica. Segundo ela, é fundamental que o teste seja feito o mais rápido possível após o nascimento. “Quanto mais rápido for feito o teste, mas cedo faremos o diagnóstico para começar o tratamento”.

Os exames são realizados no Laboratório de Triagem Neonatal instalado no Hospital de Apoio de Brasilia (HAB). O resultado é disponibilizado para a família nas unidades básicas de saúde cerca de 20 dias após a coleta. Se houver alguma alteração, a família é avisada imediatamente para que se faça uma nova coleta ou que seja marcada uma consulta médica.

Teste do olhinho

Cerca de 40 mil bebês que nasceram em hospitais públicos no ano passado foram submetidos ao exame oftalmológico realizado em recém-nascido, que previne 60% das causas de cegueira, doenças congênitas e catarata. O “teste do olhinho” ou reflexo da luz vermelha foi implantado no DF há cinco anos. No Brasil, apenas oito estados e o DF realizam o exame que deve ser feito nas maternidades públicas e privadas durante as primeiras 24 horas de vida do bebê.

Segundo o coordenador de Oftalmologia da Secretaria de Saúde do DF, Rogério Nobrega, o método é simples, rápido e indolor. No exame, realizado em uma sala escura, é utilizando um oftalmoscópio, aparelho específico para o teste.

“O médico aponta uma luz no olho da criança a uma distância de 20 centímetros, que deve refletir um tom vermelho semelhante ao observado em fotografias com flash. Caso a cor seja opaca, branca ou amarelada, significa que o recém-nascido possui alguma patologia”, explica Rogério.

O oftalmologista também relata que o exame previne a ambliopia, visão deficiente por falta de estímulo do nervo óptico. “A criança forma completamente a visão aos cinco anos. Quando fazemos o teste do olhinho e descobrimos que existe alguma doença tentamos tratá-la antes que o paciente complete essa idade, para que o tratamento seja mais eficaz”, completa o médico.

Teste da orelhinha

A Lei nº 12.303, de 2010, tornou obrigatória a realização gratuita do exame de Emissões Otoacústicas Evocadas (EOA) – conhecido como teste da orelhinha –, em todos os hospitais e maternidades. O exame deve ser feito com 48 horas de vida, preferencialmente antes a alta hospitalar e prioritariamente durante o primeiro mês de nascimento.

A triagem auditiva neonatal foi iniciada em 2009 no DF de forma seletiva, priorizando os recém-nascidos que apresentavam algum comprometimento de sua audição periférica. A partir de setembro de 2013, o programa foi ampliado e agora inclui todos os bebês nascidos nos hospitais da rede pública.

“Nossa meta é atingir 95% das crianças que nascem em todas as maternidades públicas da Secretaria de Saúde até o final deste ano”, ressalta a coordenadora da Fonoaudiologia da SES, Cristianny Lima. Essa implementação no programa só foi possível, segundo ela, após a posse de 44 profissionais no segundo semestre de 2013. Com isso, foi possível lotar fonoaudiólogos em todas as maternidades, promovendo um avanço significativo na triagem auditiva.

O teste da orelhinha é realizado por fonoaudiólogos e dura de três a cinco minutos.  O exame é indolor, pode ser realizado com a criança dormindo e ocorre por meio de um pequeno fone colocado na parte externa do ouvido. Este fone é capaz de gerar estímulos sonoros que mostram como o ouvido do recém-nascido reage aos sons.

Os bebês que apresentarem resultado alterado no primeiro no teste devem ser submetidos a um segundo exame. Se persistir a alteração, a criança será encaminhada para avaliação e diagnostico nos serviços de alta complexidade do DF habilitados pelo Ministério da Saúde: o Centro de Audição e Linguagem (Ceal) e o Hospital Universitário de Brasília (HUB).

Segundo estimativas, três em cada 100 recém-nascidos podem apresentar problemas auditivos. “No caso dos bebês que não fizeram o exame, só será possível detectar a deficiência na fase de desenvolvimento da fala ou aprendizado. A descoberta precoce permite atendimento adequado”, explica a fonoaudióloga Cátia Fonseca.

Teste do coraçãozinho

O exame de oximetria – mais conhecido como teste do coraçãozinho –, para detectar e prevenir problemas cardíacos nos recém-nascidos, já é oferecido em várias maternidades da rede publica de saúde do DF.

O teste do coraçãozinho é realizado desde 2012 no Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB) e nos hospitais regionais de Taguatinga, Brazlândia, Samambaia, Paranoá, Planaltina e Asa Norte. No Hospital Regional do Gama, o exame começou a ser feito em setembro de 2013.

“A nossa meta é fazer o teste em todos os bebês nascidos no hospital”, afirma a chefe da Maternidade do HRG, Joelma Alves Lessa. “O exame é muito importante e, se for observado algum problema, as providências serão tomadas de imediato”.

De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Pediatria, cerca de 10 em cada mil nascidos vivos podem apresentar alguma malformação congênita e, dentre esses, dois podem ter cardiopatias graves e precisar de intervenção médica urgente.

O procedimento é simples, indolor. Consiste em medir a oxigenação do sangue e os batimentos cardíacos do recém-nascido com o auxilio de um oxímetro instalado no pulso e no pé, e deve ser feito nos primeiros dias de vida, em bebês com mais de oito meses de gestação.

O teste permite identificar precocemente se a criança tem alguma doença grave no coração e, em caso positivo, o paciente é submetido ao exame de ecocardiograma para confirmar o diagnóstico. O teste ainda não é obrigatório por lei no Distrito Federal, mas a Secretaria de Saúde forneceu o oxímetro aos hospitais públicos devido à importância do exame.

Celi Gomes