Escola Técnica do SUS: egressas contam experiências motivadas através do aprendizado

“Fizemos um plano de intervenção para o nosso Trabalho de Conclusão de Curso, mas como somos agente de combate às endemias do município de Aracaju, analisamos a possibilidade de implementar esse projeto na comunidade onde atuamos, no bairro Porto D’Antas [zona norte da capital sergipana]. Percebemos que na comunidade havia muitos locais de descarte incorreto de resíduos sólidos urbanos e, a partir dessa situação, notamos a real necessidade de estimular uma mudança no hábito da população local, de forma a valorizar o ambiente, tornando-o mais agradável, além de estimular práticas saudáveis”. O relato de Eláinne Inojosa, aluna egressa da Escola Técnica de Saúde do SUS em Sergipe (ETSUS-SE), administrada pela Fundação Estadual de Saúde (Funesa), com suporte da Secretaria de Estado da  Saúde (SES), é um testemunho de como a educação em saúde pode incentivar práticas positivas à população. 

O trabalho “Do lixo à Cidadania”, desenvolvido em equipe por Eláinne e as colegas Jaqueline Costa e Rosineide Correia, todas  ex-alunas da ETSUS-SE e atualmente agentes de combate às endemias do Centro de Controle Zoonoses (CCZ) – órgão da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) -, surgiu durante a conclusão do curso de Técnico de Vigilância em Saúde, em 2017. “Vimos incidentes com animais peçonhentos, presença de roedores e caramujos que poderiam causar vermes, como a leishmaniose e a esquistossomose. Também observamos a presença de animais errantes, como cães e gatos, que apresentavam sintomas de doenças. Com essa situação, o descarte inadequado do lixo favorecia todas essas doenças”, diz.  

Diante do problema, elas pensaram em algo pra evitar esse costume. Com a ajuda dos professores, desenvolveram um projeto na ETSUS: foram ao local, mapearam toda a área e identificaram todos os pontos de descarte incorreto. Após a conclusão da tese do projeto, realizaram reunião com as lideranças do bairro, além da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Vigilância Epidemiológica, coordenadores das escolas locais e demais colaboradores, para tentar captar recursos e por em prática.  

Em sua experiência, Eláinne afirma que, para a surpresa do grupo, antes de começarem a implementar o projeto, entenderam a vontade de mudança. “Professores e alunos de escolas enxergaram essa necessidade e contribuíram para o funcionamento do projeto. Outro exemplo foi em um dos pontos da comunidade, onde alguns moradores perceberam a necessidade, conseguiram mudas e pneus para plantar, além de cercarem o terreno e remunerarem uma pessoa para vigiar”.

Outro ponto identificado pelas ex-alunas ficava em frente à unidade da Fundat do Porto D’Antas, onde, segundo elas, tinha um lixeiro muito grande. “Um grande fluxo de pessoas que passavam pelo local notava o ambiente desagradável, com animais errantes mexendo no lixo, suscetíveis a doenças. Quando fizemos reunião, as pessoas se manifestaram, dizendo que levariam materiais, como caixa coletora, placa, liberação para que fizéssemos educação em saúde nas escolas. Essa união foi o que fez nosso projeto funcionar. Já trabalhamos com educação em saúde, mas tivemos a abertura das creches, escolas, unidades de saúde”, relata Rosineide.

Conscientização e trabalho coletivo

Durante o processo, a equipe dialogou com usuários e frequentadores desses locais, onde foi feito um trabalho de conscientização sobre os males do descarte incorreto do lixo e como isso implica na saúde, sempre associando às doenças geradas pela prática inadequada. Eláinne ressalta que, “mais importante do que fazer é orientar, para que as pessoas sintam necessidade de atuar coletivamente. Se nós apenas executarmos, a população encontrará o serviço pronto e não se sente parte desse resultado. Fizemos alguns trabalhos na unidade de saúde, quando teve a Semana da Prevenção à Leishmaniose, mas ainda pretendemos implementar nas escolas. Em algumas creches também realizamos esse trabalho informativo em relação à Dengue”.

De acordo com as egressas, surgiram alguns obstáculos. Após a reunião, perceberam rejeição de alguns moradores, além das dificuldade de captação de alguns recursos e, apesar do apoio, algumas pessoas ainda continuaram descartando lixo inadequado. “Por isso acreditamos que o investimento na educação em saúde para focar nesses locais, para ver se há uma redução desse hábito. São mudanças bem significativas e esse problema já vinha há mais de 20 anos. Junto a essa prática há uma descrença. No dia que as mudas chegaram, ouvimos de algumas pessoas que a iniciativa não funcionaria, mas permanecemos na tentativa e deu certo. Hoje é satisfatório ver as crianças passando e não ter mais lixo ao redor, onde brincam”, enfatiza Eláinne.

Rosineide relembra que uma colega da Adema disse uma frase que me marcou: “Onde nascia lixo, hoje nascem flores”. “Tínhamos medo de não dar certo, pois ainda tem a questão dos carroceiros que descartam resíduos lá. No entanto, não queríamos entrar em atrito, pois sabemos que é uma necessidade da renda deles. Só gostaríamos que eles percebessem isso e tivessem um local adequado pra descartar o material. A união de todos foi o que fez acontecer”. 

ETSUS como base do ensino-serviço

A coordenadora do Curso Técnico em Vigilância em Saúde da ETSUS-SE, Karla Cunha, informa que, ao longo desse processo, a escola conseguiu formar um total de 15 discentes; e todos eles passaram por quatro módulos, com aulas  teóricas, praticas, estágios, etc. Dessa forma, um fator relevante é que a importância da educação em saúde também foi colocada em prática. “Como pré-requisito da formação dos estudantes, a escola pediu que todos produzissem um TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) em formato de projeto de intervenção. Foram seis grupos e cada um desenvolveu um projeto de intervenção em relação às problemáticas encontradas dentro do seus respectivos territórios”.

Segundo Rosyanne Vasconcelos, coordenadora da Escola Técnica do SUS em Sergipe (ETSUS-SE), a  transformação da realidade do trabalho é um dos princípios da Escola Técnica do SUS para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde, considerando que os  estudantes  da Escola são trabalhadores integrantes desse sistema. “Verificar as ações executadas atualmente pelos nossos estudantes egressos nos enche de orgulho, pois trata-se da concretização desse ideal. É a demonstração de que os principais objetivos do curso foram atingidos”, disse.   

Assessoria Funesa