MonitoraCovid-19 avalia cobertura dos testes em massa no controle da epidemia no Brasil

Monitora Covid 19

A testagem em massa é uma das ações mais importantes para o monitoramento de epidemias e vem sendo praticada em vários países. Entre outras coisas, permite identificar grupos populacionais e regiões prioritárias nos processos de relaxamento (ou intensificação) das medidas de isolamento social. No Brasil, entretanto, as testagens são feitas com pouco ou nenhum planejamento e sequer contamos com um indicador confiável sobre seus resultados: o registro dos testes realizados e o total de resultados positivos para Covid-19 estão distribuídos por três diferentes sistemas de informação, que apresentam sobreposições e inconsistências entre si: GAL, eSUS-VE e SIVEP-Gripe.

Estudo de pesquisadores do Instituto de Comunicação e Informação Científica em Saúde (Icict/Fiocruz) sobre os dados desses três sistemas concentradores de dados – publicado na Nota Técnica do Sistema MonitoraCovid-19, intitulada Cobertura e positividade dos testes para Sars-CoV2. Evolução, tendências recentes e recomendações mostram que os testes são feitos pelos estados em estratégias independentes e aleatórias.  Além disso, estados como Bahia, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo apresentam positividade (total de pacientes positivos revelados pelos testes) em valores que vão de 25% a 50%, enquanto a Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta uma positividade menor que 5% como um indicador de que a epidemia está sob controle.

A análise de positividade dos testes aponta que já no fim de outubro vário estados apresentavam crescimento no indicador, sobretudo nos testes RT-PCR. Destaca-se o Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo na região Sudeste; Amapá, Rondônia e Pará na região Norte; Paraná na região Sul, Sergipe, Alagoas e Ceará no Nordeste; e Distrito Federal na região Centro-Oeste.

“Os testes têm um papel muito importante no monitoramento das epidemias e de suas tendências. É uma ferramenta para conter, desacelerar e reduzir a propagação do vírus. Permitem identificar rapidamente os infectados e realizar uma estratégia de rastreamento dos contatos da pessoa, que podem estar também infectados. Com isso, as autoridades de saúde podem realizar uma intervenção mais efetiva e direcionada, detectando e isolando os infectados e interrompendo rapidamente a cadeia de transmissão do vírus. Essa estratégia foi usada com muito sucesso na Coreia do Sul, na China, na Nova Zelândia e em outros países que conseguiram conter a epidemia”, explica Raphael Saldanha, especialista em saúde pública do Icict e um dos autores do estudo.

No Brasil, entretanto, a única estratégia que vem sendo utilizada é o monitoramento da incidência de casos confirmados e óbitos, que dá resultados mais limitados e com muito atraso em relação ao momento da infecção.

“A positividade dos testes RT-PCR funciona como um indicador de tendências da epidemia. Se as secretarias de saúde dispusessem dessa informação de forma mais dinâmica, conseguiriam planejar e manejar melhor os recursos físicos e humanos de combate à epidemia, evitando ou diminuindo o número de casos graves e óbitos, além de interromper a cadeia de transmissão, usando a estratégia de rastreio e isolamento de contatos positivados”, explica Diego Xavier, outro autor do estudo.

Os três sistemas que contêm registros de testes no Brasil possuem dados bem discrepantes. Por exemplo, enquanto o GAL (Sistema Gerenciador de Ambiente Laboratorial) possui 4,9 milhões de testes cadastrados em sua base, que não está atualizada desde 21 de outubro, o eSUS-VE tem 17 milhões de testes, atualizados até 10 de dezembro.

A Nota Técnica destaca as dificuldades que enfrentamos para realizar testagens em massa:

“No Brasil, vários aspectos determinaram a falha na testagem e, consequentemente, o aumento de casos graves, que levou a um grande número de óbitos, grande parte evitáveis. Um deles foi a descentralização da compra e da distribuição de testes. Isso trouxe a fragmentação da informação e ainda onerou de forma significativa os cofres públicos, já que a compra centralizada de testes traria vantagem na negociação e a distribuição coordenada dos testes e proporcionaria maior clareza da informação. Isso possibilitaria a criação de indicadores como o de positividade que, em última análise, traz ganho de oportunidade nas intervenções” afirma Diego Xavier, epidemiologista do Icict.

Fonte: Icict/Fiocruz