Pronto-Socorro: Vida e esperança no maior hospital do oeste da Amazônia

Secretário de Estado de Saúde, Alysson Bestene, com conselheiros municipais de Saúde e representantes do Ministério Público do Estado do Acre Foto: Odair Leal/Secom

Na primeira de uma série de três reportagens especiais sobre a Saúde estadual, todas as segundas-feiras, conheça o Hospital de Urgência e de Emergência, onde funciona o Pronto-Socorro de Rio Branco, que em 2019 atendeu a pelo menos 75,3 mil pessoas

A cena é típica de um filme de guerra. Na madrugada, um jovem de 18 anos chega de ambulância com as vísceras expostas. A equipe de enfermeiros do Hospital Roberto Galindo Teran, de Cobija, na Bolívia, cruzou 240 quilômetros na escuridão da noite para evitar um impedimento legal da polícia brasileira, o de entrar no país com paciente estrangeiro sem identificação. Do contrário, acreditavam que o rapaz não teria chance de sobreviver no país de origem.

A cidade boliviana de Cobija está localizada na fronteira com os municípios brasileiros de Epitaciolândia e Brasileia e, se o jovem permanecesse aos cuidados dos profissionais de lá, certamente não escaparia da morte pela falta de infraestrutura para casos graves.

Por isso, percorreram quatro horas de viagem até a capital do Acre, encontrando acolhida na maior unidade de saúde do oeste da Amazônia, o Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (Huerb), que em 2019 atendeu a pelo menos 75.793 pessoas, a maioria – 11.364 pacientes – na classificação de alerta amarelo, quando os casos são de gravidade moderada, sem risco imediato.

Em Rio Branco, a equipe médica descobre que o adolescente, a quem daremos o nome fictício de Juan Ramirez, não tem nenhum documento. Nenhuma identificação. Nada além do óbvio: vítima de agressão por emprego de arma branca. Os médicos constatam que, apesar da gravidade, seu quadro é estável.

No transporte à revelia da lei brasileira – que proíbe a transferência de pacientes de outros países sem o conhecimento de autoridades nacionais – não houve ‘regulação’. Nem das autoridades socorristas brasileiras, nem das bolivianas, um protocolo fundamental para que o hospital de destino providencie antecipadamente suporte para a vítima, incluindo uma vaga na unidade de terapia intensiva.

Ainda assim, apesar de tudo incerto e não sabido, as adversidades de Ramirez não serão empecilho para que ele seja cirurgiado e levado para a UTI como prioridade máxima, estabilizado como qualquer paciente nacional em condições análogas.

No 5º andar do Pronto-Socorro de Rio Branco, o boliviano seguiu até se recuperar e receber alta, ocorrida na última semana de janeiro passado.

Um dos lemas principais do Sistema Único de Saúde (SUS) vigente no Brasil, e também da Constituição Brasileira, é justamente o atendimento universal com dignidade. Por isso, os profissionais, lógico, não fazem distinção de sexo, cor, raça, opção sexual, nacionalidade ou qualquer outra coisa. Estão para salvar vidas.

O Pronto-Socorro de Rio Branco é hoje referência para toda a região, incluindo cidades amazonenses e as bolivianas e peruanas nas fronteiras. “Estamos sintonizados num único propósito: o de que a Saúde Pública é um direito universal e que, por isso mesmo, desconhece fronteiras geográficas”, explica a enfermeira Mônica Silvina Maia Nascimento.

Nascimento é gerente de Assistência e de Regulação de Leitos do Huerb, profissional dedicada ao acolhimento dos pacientes que buscam o hospital e de intermediar para dinamizar o atendimento.

Após quase dez anos de espera, em 2019, a população pôde contar com a ampliação do Pronto-Socorro, um compromisso do governador Gladson Cameli quando ainda em campanha, que era o de inaugurar a verticalização do hospital com equipamentos, médicos e equipe para atender a população em apenas sete meses de mandato.

Na ocasião, Cameli destacou que a Saúde ainda estava longe da ideal. “Mas o nosso sacrifício não termina aqui. Pelo contrário, ele começa hoje. E as imagens dos corredores, cheios de pessoas sofrendo com dores, não veremos mais”, disse à época.

Sem macas nos corredores desde o dia 11 de janeiro

Alvo de críticas da imprensa quando os setores não funcionam bem, o Pronto-Socorro de Rio Branco continua a passar por melhorias desde que a sua verticalização foi inaugurada pelo governador Gladson Cameli, no dia 6 de agosto do ano passado. Afinal, foram 20 anos de descaso com um dos setores mais sensíveis da administração pública até que Cameli assumisse, em janeiro de 2019 e iniciasse uma série de medidas para entregar os seis andares do hospital funcionando.

Desde então, as obras de ampliação não pararam. E neste momento, por exemplo, 88 novos leitos estão sendo construídos na parte posterior do hospital, numa esforço em que a própria Casa Civil, órgão ligado ao Gabinete do Governador, está engajada, resolvendo problemas pontuais na unidade e eliminando entraves burocráticos com reflexos positivos para a população.

No dia 14 de janeiro último, a mensagem na tela do Whatsapp surgia dizendo o seguinte: “Oi, você percebeu que estamos desde sábado [dia 11] até hoje sem estar na mídia? Sem [macas no] corredor e [nem] reclamação lá da frente?”.

A frase de Mônica Nascimento, enviada para conhecimento da Assessoria de Comunicação da Sesacre, tinha como único propósito mostrar que os profissionais de saúde estão realmente dedicados a promover as melhorias de que tanto as pessoas precisam.

O comentário aconteceu depois que a direção do Huerb havia sido bombardeada por críticas que tratavam da presença de pacientes à espera de cirurgias ortopédicas em macas acomodadas nos corredores.

Do dia 11 de janeiro até este domingo, 9, a situação não se repetiu mais, graças a um esforço coletivo que começou com a colaboração dos médicos da triagem.

“Ouvimos as necessidades dos pacientes, escutando cada um deles e conseguimos dar uma resposta positiva às pessoas no momento em que todos decidiram se unir”, relembra a enfermeira Nascimento.

Outro fator que contribuiu foi a força conjunta para desafogar a fila das cirurgias eletivas, aquelas em que o paciente está em condição estável para ser operado. Essa condição reverberou positivamente no Pronto-Socorro de Rio Branco, graças a um planejamento eficaz da gestão do secretário de Estado de Saúde, Alysson Bestene, ao organizar equipes médicas para reduzir a zero a agenda das cirurgias reprimidas por regionais. O primeiro município a começar esse processo foi Senador Guiomard, onde no Hospital Dr. Ary Rodrigues são realizadas em média seis cirurgias por dia, desde o dia 8 de janeiro.

Com esse procedimento, pacientes que esperavam até dois anos por uma cirurgia na Fundação Hospitalar do Estado do Acre (Fundhacre) e que são moradores de municípios no entorno de Senador Guiomard estão tendo a oportunidade de serem cirurgiados no hospital geral do município.

O auxílio duas vezes*

Quero agradecer às equipes dedicadas da UDT, Unidade de Dor Torácica do Pronto Socorro de Rio Branco, 5° andar no novo prédio, pensam numas equipes acolhedoras.

É a segunda vez em quatro anos que precisei ser socorrido nessa Unidade do PS, a primeira foi em 2016 quando tive um Infarto Agudo do Miocárdio, onde foi feita a Angioplastia com Implante de Stent, agora 2020 quando surgiu outras implicações cardíacas que precisou realizar Cateterismo + Angioplastia com Implante de Stent. Só tenho elogios dos atendimentos.

Minha #gratidão a todos os servidores, desde os médicos, passando pelas equipes de enfermeiros e técnicos, até os terceirizados que mantêm o espaço limpo.

Tive alta hoje pela manhã, graças a Deus e a essas equipes, estou bem e já casa.

*Do internauta Maurilho Silva na sua página pessoal do Facebook do dia 15 de janeiro

O efeito dominó: por que UPAs e Pronto-Socorro estão quase sempre com muita demanda

Em se tratando de Saúde Pública, descontentamentos sempre existirão, sobretudo, porque muitos serviços estão interligados e dependentes um do outro para que funcionem bem. É como num efeito dominó em que as pedras, se colocadas uma atrás da outra, cairão todas ao primeiro empurrão da inicial.

O governo do estado é parceiro do município, mas por faltarem condições para que as Unidades Básicas de Saúde, gerenciadas pela Prefeitura de Rio Branco, desempenhem bem as suas finalidades, os atendimentos nas UPAs e no Pronto-Socorro de Rio Branco acabam se tornando referência para as pessoas quando sentem um mínimo de desconforto de saúde.

Um levantamento da Sesacre revela que pelo menos 734.298 consultas e atendimentos médicos foram realizados nos hospitais, nas unidades mistas de saúde, nas de atenção especializadas e nas unidades de pronto atendimento (UPA), em todo o estado, em 2019.

O número é altíssimo porque a saúde preventiva quase não funciona. Só para citar como exemplo, na Baixada da Sobral, lar de mais de 100 mil pessoas, 23 Unidades Básicas de Saúde sofrem de limitações no atendimento, obrigando as pessoas a recorrerem ao Sistema de Saúde de médio e de alta complexidade, que é tocado pelo estado.

De acordo com o relatório geral sobre as atividades da Sesacre, em 2019 as consultas e os atendimentos médicos na UPA da Sobral Franco Silva ficaram em terceiro lugar no ranking geral, com pelo menos 124.422 procedimentos.

O primeiro lugar foi o da UPA do Segundo Distrito, com 175.894, seguida da Fundhacre, responsável pelos atendimentos especializados e que realizou 149.663 assistências médicas.

Para efeito de comparação, as 734.298 consultas e atendimentos médicos refletem uma diferença de apenas 135 mil a menos que o total de habitantes de todo o Acre: 869.265, segundo o último Censo do IBGE, de 2018.

A luz no final do túnel é que as entidades, tanto municipais quanto o Ministério Público do Estado do Acre e do próprio estado, estão trabalhando em ações com o Conselho Municipal de Saúde para melhorar o setor em 2020.

“Com os conselhos Municipal e Estadual de Saúde, com o promotor Gláucio Ney Shiroma, do MPAC, com o secretário de Saúde de Rio Branco, Otoniel Almeida e com os representantes dos usuários, estamos planejando ações importantes para melhorar a nossa Saúde”, lembra o secretário Alysson Bestene.

“Eu acredito, defendo e busco, de todas as formas, valorizar o diálogo. Os problemas são muitos, mas nossos profissionais trabalham com dedicação, amor e empenho, buscando sempre oferecer um atendimento melhor para a nossa população e acredito que unindo forças, cada um cumprindo bem seu papel, vamos melhorar a Saúde”, completa Bestene.

A gratidão de um pai*

Boa noite. Mary está em casa! Chegamos há pouco. Durante uma semana convivi dentro do PS e por lá as coisas estão mudando: agilidade nas consultas e entrega de exames, sem pacientes deitados em macas nos corredores, atendimento realmente humanizado. Para muitos pode parecer pouco, mas isso é um grande avanço.

Quero agradecer a todos que oraram, rezaram por sua saúde, aos familiares e amigos que me ligaram, mandaram mensagens, que se importaram com a situação.

Também agradeço aos funcionários do PS, enfermaria 30, no quarto andar, médicos, enfermeiros, profissionais da limpeza, que durante esses oito dias deram toda atenção devida para que Mary pudesse obter êxito no tratamento.

Em especial, agradeço de coração a um cidadão que tem meu apoio, respeito e admiração, o secretário de Saúde do Acre, Alysson Bestene Lins. Muito obrigado. Deus vos abençoe.

*Do internauta Valcirley Machado na sua página pessoal do Facebook, no dia 29 de janeiro.

Entenda como funciona a verticalização do Pronto-Socorro

O hospital tem 119 novos leitos em cinco andares, e um heliponto no sexto pavimento. Iniciada há nove anos a um custo de R$ 20,1 milhões, a obra do novo Pronto Socorro sofreu inúmeras interrupções, sobretudo por erros estruturais graves que foram consertados no governo Gladson Cameli.

Uma das principais facilidades é o heliponto, no 6º andar. O serviço aéreo já permitiu o resgate de pessoas acidentadas nas regiões mais remotas do estado. O local é fundamental para pacientes que chegam pelo ar e precisam ser transferidos imediatamente aos leitos de UTI, instalados ligeiramente abaixo do ponto de pouso, no 5º pavimento.

Neste andar estão dez UTIs, sendo duas de isolamentos. Outros 109 leitos estão distribuídos pelo segundo, terceiro e quarto andares, permitindo que pacientes atendidos pelas diversas especialidades tenham um dos espaços mais modernos de acolhimento hospitalar da Amazônia.

As mudanças também passam pela ampliação do estacionamento e pela demolição de alas obsoletas. Entre elas está a do velho setor de atenção a pessoas com transtornos mentais e que têm necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas. Ali, 88 novos leitos estão sendo construídos neste momento.

O número de leitos distribuídos por pavimentos

2º andar – Possui 39 leitos, onde funcionará a clínica cirúrgica B, sendo três leitos destinados a crianças pós-cirurgiadas. É neste andar também que 36 leitos serão destinados para cirurgias ortopédicas;

3º andar – Também com 39 leitos, será neste pavimento que funcionará a clínica cirúrgica A. Neste andar, três leitos serão destinados ao tratamento de pessoas queimadas. A exemplo do 2º, neste há ainda três leitos para crianças pós-cirurgiadas, sobrando 33 leitos para a cirurgia geral.

4º andar – Com 31 leitos, será neste andar que funcionarão 14 leitos de clínica médica masculina, outros dois de isolamento para homens, além de 13 leitos de clínica médica feminina, com dois leitos de isolamento para mulheres.

5º andar – Conta com dez leitos de UTI, sendo dois para pacientes que precisam de isolamento.

O Pronto-Socorro em números

Estatísticas de atendimento em 2019

Número de pacientes que buscaram atendimentos: 75.793;

Pacientes classificados por nível de atendimento (se vermelho, laranja, amarelo verde ou azul): 17.7772;

Pacientes atendidos pelo médico: 66.186;

Na condição de prioridade (classificação vermelha): 2.761 pessoas;

Em classificação de alerta laranja: 1.954 pacientes;

Na condição de alerta amarelo: 11.364;

Em situação verde: 1.423 pessoas;

Na classificação de azul: 192 pacientes.

— 

Por: Sesacre