Planificação da APS é tema do último dia do I Seminário Nacional Conass Conasems

Planificação da Atenção à Saúde dominou o debate no último do seminário

Dando continuidade às atividades do último dia do seminário, o consultor do Conass, Marco Antônio Bragança, iniciou as apresentações sobre a Planificação da Atenção à Saúde (PAS) como instrumento de gestão e organização dos serviços de saúde em Redes de Atenção à SaúdeASprimeira exposição do último dia do I Seminário Nacional Conass Conasems.

A PAS é um projeto do Conass que teve início em 2004 com as oficinas de redes de atenção à saúde. Desde então tem evoluído e se aprimorado aumentando cada vez mais a sua capilaridade e alcance. “Já são quase 20 anos com as oficinas em um trabalho que se iniciou com a qualificação da Atenção Primária à Saúde e o reconhecimento de que sem ela não construímos o SUS”, explicou..

O consultor explicou alguns objetivos da planificação como o apoio ao corpo técnico gerencial das secretarias estaduais e municipais de saúde na organização das redes de atenção à saúde, por meio da qualificação dos macroprocessos da atenção primária à saúde e da atenção ambulatorial especializada, alcançando assim resultados clínicos e funcionais para a sua população usuária.

Outro objetivo do projeto classificado pelo consultor como a maior característica da planificação diz respeito ao apoio ao corpo técnico gerencial das SES e SMS na organização das redes de atenção à saúde, por meio do encontro com pessoas da qualificação dos macroprocessos da APS e da atenção ambulatorial especializada (AAE), com vistas a alcançar resultados clínicos e funcionais para a sua população usuária. “Essa é a grande ação/característica desse projeto. Nós vamos ao encontro das pessoas que estão fazendo, que estão dedicando seu tempo e sua energia para cuidar de outras pessoas. “Nós descobrimos o caminho para chegar até essas pessoas para trabalharmos, formularmos hipóteses e enfrentarmos os problemas juntos. Essas pessoas são  os gestores lcoais, os profissionais e também os usuários. Essa é a maior riqueza da planificação”

Ao longo da evolução do projeto também foram incorporadas a AAE e a Atenção Hospitalar à planificação. “O próprio processo de ordenação natural da APS se desdobrou como uma qualificação de melhoria para a atenção ambulatorial especializada e a atenção hospitalar em uma progressão quase natural a partir do momento que nos colocamos o desafio de responder à necessidade de saúde de uma população”.

PlanificaSUS

Em 2018 o projeto de Planificação do Conass ganhou um desdobramento a partir de uma parceria, via Proadi-SUS, com o Hospital Israelita Albert Einstein e o Ministério da Saúde: a organização da Atenção Ambulatorial Especializada em Rede com a Atenção Primária à Saúde, denominado PlanificaSus.

O projeto tem por objetivo melhorar os serviços de saúde para avançar a assistência ao usuário do SUS de forma qualificada e integrada entre atenção primária e ambulatorial especializada.

Márcio Paresque coordenador de Projetos do Hospital Israelita Albert Einstein, explicou as principais características do projeto que tem metodologia idealizada pelo Conass. “Nosso objetivo é apoiar o corpo técnico gerencial das SES e SMS, no planejamento, organização e operacionalização de workshops e na organização dos macroprocessos da APS e da AAE, na lógica das Redes de Atenção à Saúde (RAS)”, disse.

Profissionais de diversos locais foram distribuídos em diferentes localidades no país no projeto que tem abrangência nacional e foi construído a partir de seis eixos, gestão; administrativo e financeiro; ensino; tutoria; gestão de dados e monitoramento; e gestão de evidências.

Com duração de três anos (2018-2020), o projeto já apresenta resultados positivos. Ao todo, 21 Unidades Federativas aderiram à iniciativa com adesão de 27 Regiões de Saúde e mais de 300 municípios. Quatro linhas de cuidados foram trabalhadas: materno-infantil;  pessoa com hipertensão arterial e diabetes; pessoa idosa e saúde mental. “Tínhamos uma meta de 70% das regiões concluindo o projeto neste triênio e terminamos com 93% das regiões que iniciaram o PlanificaSUS concluintes”, comemorou.

Paresque agradeceu a toda equipe envolvida no projeto, pois só a partir da contribuição de todos foi possível alcançar os resultados obtidos. “Quero agradecer a todas as pessoas que contribuíram, em especial aos profissionais da APS por aceitaram o desafio e operacionalizarem localmente o projeto. Os grandes protagonistas são vocês que estão na ponta, mudando e organizando os micro e macro processos da atenção primária e  especializada. E também ao próprio SUS e toda a população que se beneficia do nosso trabalho e que são nossa principal razão de existir”.

Centro Colaborador da PAS em Uberlândia/MG

A experiência do Centro Colaborador da PAS em Uberlândia/MG foi apresentada pela consultora do Conass e responsável pelo centro, Rubia Barra. Criado em 2019, o centro constitui-se como um espaço para a viabilidade de uma intervenção de melhoria da qualidade no SUS por meio da Planificação da Atenção à Saúde com utilização inovadora de novas tecnologias, além de receber técnicos dos estados e municípios para conhecer o que foi desenvolvido partir da planificação que se iniciou em Uberlândia em 2017.

Rubia explicou como foi o processo de planificação no município (iniciado em 2017) e enfatizou o desafio de expandi-lo para as unidades básicas convencionais (equipes de Atenção Primária – eAP) acontecer nas unidades convencionais. “É importante ressaltar que a estratégia para fazer a expansão e a implantação dos processos nas unidades convencionais foi colocar enfermeiras experientes como gerentes das eAP, além de contar com um time de tutores que participaram de toda a expansão do processo no municípios”.

Durante a pandemia a estratificação já realizada pelas equipes facilitou o enfrentamento da Covid-19, uma vez que, mais de 136 mil pessoas no município, entre gestantes, crianças menores de dois anos, diabéticos e idosos já haviam sido identificadas possibilitando planejar melhor as ações para ass pessoas que estão nos grupos de riscos. “Quando falamos de planificação e quando falamos da organização de processos estamos falando de um trabalho que tem uma metodologia conhecida, que dá certo. É uma metolodogia que as equipes abraçam, de maneira geral. É possível perceber que tanto a população quanto as equipes agradecem a cada processo organizado”, finalizou.

Após as apresentações, a assessora técnica do Conass, Maria José Evangelista deu ênfase ao grande desafio hoje posto à planificação: ser implementada em todo o país.

Experiências exitosas

Para encerrar o seminário, foram escolhidas três experiências bem sucedidas de Secretarias Estaduais  e Municipais de Saúde que utilizaram os serviços da planificação.

Uberlândia/MG – Polyana Bonati, coordenadora da APS do setor central norte de Uberlândia falou sobre a Atenção Primária à Saúde como coordenadora da Rede de Atenção à Saúde da Pessoa Idosa. “Em 2018 começamos a focar na organização da Rede de Atenção à Saúde da Pessoa Idosa e utilizamos como fundamentação teórica os ensinamentos do professores Eugênio Vilaça (A Construção Social da Atenção Primária em Saúde) e do Edgar Moraes que nos apresentou o Índice de Vulnerabilidade Clínico Funcional (IVCF), um instrumento de fácil aplicação que nos permite ter uma visão global do idoso e fazer esse gerenciamento a partir de estratos clínicos funcionais”, explicou.

Ela falou sobre as ações que foram desenvolvidas na construção da rede a partir de micro e macro processos, com qualificações de equipes multiprofissionais, estratificação de riscos, ações preventivas como vacinação e cuidado domiciliar, ações de educação em saúde e de prevenção à Covid-19 em Instituições de Longa Permanência de Idosos (ILPI), autocuidado apoiado, entre outros.

Como reconhecimento o Ministério da Cidadania concedeu ao município de  Uberlândia o primeiro lugar de destaque na Região Sudeste do país na dimensão “Saúde, Apoio e Cuidado”  indo ao encontro do esforço de todos os profissionais envolvidos nas ações desenvolvidas nos município.

Paraná:  A enfermeira chefe da subdivisão de saúde do idoso da SES/PR, Giseli Rosa apresentou a experiência da implementação do PlanificaSUS na região de Irati como estratégia para consolidação da Rede de Atenção à Saúde no Paraná que tem no plano de Governo a atenção à saúde do idoso como área prioritária. O estado possui a 5ª maior população idosa do país com aproximadamente 1,7 milhão de  idosos.

Em dezembro de 2019 o estado lançou o projeto Envelhecer com Saúde no Paraná no qual constava a inclusão do PlanificaSus como uma das etapas a ser cumprida. “Encaramos este projeto como um desafio para que houvesse de fato a mudança na APS e a integração com a AAE”.

A estratégia de cuidado da população idosa proposta pelo Paraná está alinhada à proposição da Organização Mundial da Saúde (2020), que visa a manutenção ou reabilitação da capacidade intrínseca e funcional dos indivíduos à medida que envelhecem.

Segundo os dados apresentados, a implantação dos macroprocessos possibilitou que 100% das Unidades Básicas de Saúde aumentassen em cinco ou mais pontos percentuais a avaliação dos macroprocessos APS da linha de base até a avaliação final.

Giseli Rocha enfatizou os resultados do projeto que possibilitou ao Paraná a otimização dos processos na APS enquanto Centro Comunicador da Rede, o suporte à atenção primária pela atenção especializada, desempenhando a função assistencial, educacional e supervisional, o aprimoramento do cuidado ao idoso e o envolvimento das equipes municipais no desenvolvimento da metodologia.

Dentre os vários desafios enfrentados, a enfermeira destacou a inserção de momentos de formação para os gestores; a manutenção do processos implantados na APS e AAE; a expansão para as demais Regiões do Estado proposto no Plano Estadual de Saúde 2020/2023 e a integração do Atenção Hospitalar e demais pontos da Rede.

Cacoal/Rondônia: Maria da Conceição, assessora técnica da coordenação da APS de Cacoal/RO apresentou a experiência do município na integração da Atenção Primária e Especializada frente à pandemia da Covid-19. Ela observou que houve redução da carteira de serviços na APS, mas destacou que foram mantidos os atendimentos e a estratificação das gestantes e o monitoramento  daquelas que apresentam quadro de síndrome gripal. Além disso também foram mantidas reuniões virtuais semanais conduzidas pela SMS de Cacoal onde todos os temas voltadas ao atendimento à Covid-19.

Conceição explicou ainda que o Centro Regional Especializado de Atenção Materno Infantil (Creami) adotou estratégias como a elaboração e implantação do Plano de Contingência que foi compartilhado com a coordenação da atenção primária; o agendamento por telefone; triagem de sintomas respiratórios no acolhimento e a intensificação  das orientações quanto as medidas de prevenção da Covid-19.

Em relação ao desafios decorrente da pandemia, a assessora técnica destacou a fragilidade emocional gerada pelo cenário da pandemia; a redução da equipe por grupo de risco e o aumento do absenteísmo na 1ª consulta.

Conceição concluiu com uma alusão à metáfora da casa que representa o processo da construção social da APS. “Quero finalizar com a imagens dessas casas que demonstram que a semente foi plantada em solo fértil, cresceu e já está florescendo. O material que usamos para construir essas casas é forte, robusto e não irá ruir mesmo diante das adversidades, pois foram construídas com sabedoria, amor e compromisso com todo cidadão brasileiro”, disse emocionada.

Alexandre Fortes e Renata Maria

Ao final das exposições a diretora substituta do Departamento de Saúde da Família, Renata Maria de Oliveira Costa, e o coordenador geral de garantia dos atributos da APS, do Ministério da Saúde, Alexandre Fortes fizeram considerações acerca das experiências apresentadas. “As apresentações mostram a diversidade do Brasil, o que é o nosso maior desafio: como planificar e implantar a estratificação de risco, organizar a rede com essa diversidade de estruturas e realidades que temos no País. Essas experiências tem trazido inúmeras dicas para pensarmos em uma estratégia que possa ser ampliada no Brasil inteiro”, disse Renata que levantou ainda a possibilidade de ampliação do projeto para todo o país. “Esse projeto tem dados resultados excelentes para a atenção à população e no que depender de nós, não só continuaremos, como também o ampliaremos”.

Fortes destacou que a planificação é uma excelente ferramenta para qualificar a Atenção Primária à Saúde em todo o Brasil.

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