Tele-educação aborda desafios no controle e prevenção da esquistossomose pós-pandemia

A esquistossomose está entre as doenças parasitárias de maior prevalência mundial. De acordo com relatórios da Organização Mundial da Saúde (OMS), essa parasitose pertence ao grupo de doenças tropicais negligenciadas, com quase 240 milhões de pessoas no mundo necessitando de tratamento. Para abordar a temática junto a profissionais e acadêmicos da área de saúde, a Secretaria de Estado da Saúde (SES), em parceria com a Fundação Estadual de Saúde (Funesa), através da Escola de Saúde Pública de Sergipe (ESP-SE), realizou, nesta sexta-feira, 29, uma tele-educação sobre “Desafios no Controle e Prevenção da Esquistossomose Pós-Pandemia”.

Para a gerente do Núcleo de Endemias da Diretoria de Vigilância em Saúde da SES e especialista em Vigilância de Surto, Sidney Sá, falar sobre esquistossomose no estado de Sergipe é bastante pertinente porque Sergipe é considerado endêmico para essa doença, ou seja, de alta prevalência. “Nossa população está carente da assistência para o tratamento da esquistossomose. Isso não quer dizer que eles não tenham acesso ao tratamento. Eles têm acesso ao tratamento, mas é importante conversar mais, dialogar mais com a população a respeito dos riscos que eles correm contraindo a doença”, afirmou Sidney.

Ainda de acordo com Sidney, é necessário falar sobre os cuidados que a população deve ter para evitar a equistossomose. “O tratamento existe e é disponibilizado pelo Governo Federal, que disponibiliza para todos os municípios, mediante a solicitação. O tema que abordamos hoje é extremamente importante e deve ser abordado com mais frequência no nosso Estado”, disse.
A “Avaliação epidemiológica e desafios no controle da esquistossomose nos municípios endêmicos no Estado de Sergipe” foi uma das temáticas abordadas na tele-educação. A professora doutora e mestre em Parasitologia, que atua no Laboratório de Entomologia e Parasitologia do Departamento de Morfologia do Centro de Ciências da Saúde/UFS, Luciene Barbosa, apresentou dados do PCE fornecidos pela SES, através do Núcleo de Endemias. Em Sergipe, no período de 2011 a 2021, foram registrados mais de 31.700 casos.

O levantamento mostra que a transmissão é endêmica em 51 dos 75 municípios. De acordo com o Inquérito Nacional de Prevalência da Esquistossomose mansoni e Geohelmintos (INPEG 2010-2015), em um total de 10.302 examinados em Sergipe, 8,19% estavam positivos – índice bastante superior ao percentual médio de positivos na região Nordeste, que registrou 1,27% de um total de 111.606 examinados.

Segundo Luciene, os dados estão aquém da realidade, mesmo antes da pandemia, fato demonstrado pelo baixo número de municípios trabalhados, sendo que o ano em que atingiu-se mais municípios foi 2011, com 45. “Nos outros anos, os números continuaram baixos e, em 2020 e 2021, período da pandemia, a situação piorou, o que é compreensível. Há muitas pessoas precisando de tratamento e que se recusam a tomar o medicamento, pois esse pode ter algum efeito colateral. Também existe a questão da distância, tanto entre municípios, quanto dentro dos próprios municípios, devido a povoados mais distantes da sede. Acredita-se que, neste caso, seja devido à falta de recursos materiais”, explicou.

A professora ressaltou que o constante deslocamento da força de trabalho para outras endemias é igualmente uma questão impactante. Ao analisar outras parasitoses que também são identificadas no exame Kato-Katz (ascaridíase, ancilostomídeos, teníase) observa-se que, apesar de baixos índices, são apenas indicativos, mas não número reais, pois o exame não é o melhor identificador para essas parasitoses. “Chega-se, então, ao grande problema, que é a falta de saneamento básico em Sergipe. Constata-se da mesma forma que não há registros malacológicos no Estado. Concluindo, acredita-se estar ainda caminhando vagarosamente nesse sentido e, somente a educação, conscientizando as pessoas a pequenas mudanças, é que ao longo do tempo haverá mudanças de hábitos, como não defecar no chão, reconhecer o caramujo, tratar o doente”.
Para Luciene, o caminho para a solução, além da educação em saúde, passa por aumento da cobertura do saneamento básico, a fim de promover destino adequado para os dejetos, “diminuindo o risco de contaminação de coleções hídricas e investimentos em recursos estruturais e humanos, como capacitação do quadro de funcionários e recursos materiais para executarem adequadamente o serviço, como meios de deslocamento, computadores, microscópios, material para coleta e realização de exames”, destacou.
Outros panoramas

A ação também contou com a palestra do doutor e mestre em Parasitologia/UFMG, pós-doutor, professor da UFC e orientador dos programas de Pós-graduação em Patologia e Ciências Médicas da Faculdade de Medicina da UFC, Fernando Schemelzer, que apresentou um panorama dos dados gerais da esquistossomose no mundo e no Brasil. A estimativa é de 143,8 milhões de pessoas infectadas, com maioria na África. Nas Américas – Brasil – são 95% das infecções. O professor Também abordou sobre transmissão e fatores que contribuem para essa transmissão; epidemiologia e controle da esquistossomose Mansoni – hospedeiros intermediários; dermatite cercariana; hepatoesplenoamegalia e ascite; e distribuição das espécies de schistosoma no mundo.

Também foi abordado a distribuição de esquistossomose no Brasil, segundo a endemicidade e segundo a média de positividade; distribuição da esquistossomose em Sergipe; e o Plano de ação para o enfrentamento da esquistossomose e das geo-helmintíases. Na oportunidade, a doutora em Saúde Pública, mestre em Patologia e farmacêutica do Laboratório de Parasitologia e Biologia de Moluscos no Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas/UFC, Marta Cristhiany C. Pinheiro, ministrou palestra com abordagem sobre o Sistema de Vigilância da Esquistossomose; como identificar riscos e vulnerabilidades no território; e o Modelo Lógico do PCE (Programa de Controle da Esquistossomose).

A pesquisadora também apresentou a síntese de um projeto de pesquisa sobre o “Controle da Esquistossomose em municípios cearenses envolvidos na integração do Rio São Francisco”; e o projeto de extensão “Capacitação de Profissionais do SUS em ações de Vigilância e Controle de doenças tropicais negligenciadas em áreas da transposição do Rio S. Francisco no Ceará”.