Em dia de imersão na Ilha do Combú, estados da Amazônia compartilham inovações para fortalecer o SUS

Em um cenário que espelha a realidade amazônica, gestores dasSecretarias Estaduais de Saúde (SES) de todo o Brasil se reuniram nesta terça-feira (15), na Ilha do Combú, para o segundo dia da Câmara Técnica do Conass de Atenção à Saúde (CTAS). A programação foi inteiramente dedicada à troca de experiências exitosas, com os nove estados da Amazônia Legal apresentando as soluções criativas e resilientes que têm desenvolvido para superar os desafios únicos de seus territórios. O evento é coordenado pelas assessoras técnicas do Conass, Luciana Tolêdo e Luciana Vieira.

As apresentações, que comporão o recém-lançado repositório AVE-SUS (Ambiente Virtual de Experiências Exitosas), foram organizadas em painéis temáticos que abordaram desde o cuidado em saúde no “território líquido” até o uso de tecnologias e o papel estratégico das Escolas de Saúde Pública (EESP).

Cuidado no Território Líquido e Acesso Especializado

A primeira mesa, moderada pela secretária de saúde do Amazonas, Nayara Macksoud, trouxe à tona o conceito de “território líquido”, que define a realidade de grande parte da população amazônica, cuja vida é regida pelos rios. A SES-AM demonstrou como a sazonalidade das águas (cheia e seca) impacta diretamente a logística e a organização dos serviços de saúde, exigindo estratégias adaptadas.

Nesse contexto, foram apresentadas iniciativas como o Programa Opera Acre, que descentraliza e interioriza mutirões de cirurgias eletivas, reduzindo as filas e levando assistência para mais perto da população, conforme explicou Ana Cristina Moraes, secretária adjunta do Acre. Roraima, por sua vez, compartilhou a experiência de Cuidado Especializado à Saúde Indígena no Hospital Geral, que adapta a estrutura e os fluxos hospitalares para um acolhimento humanizado, com a inclusão de redes nas enfermarias, cardápio específico e a presença de pajés, como detalhou a coordenadora Léa Maria Alves. Já o Amapá, na apresentação da primeira-dama e coordenadora do programa, Priscilla Flores, mostrou como o Mais Sorriso leva odontologia de alta tecnologia, com scanners intraorais e fresadoras para confecção de próteses no mesmo dia, a comunidades tradicionais e aldeias indígenas.

O desafio do acesso ao cuidado especializado foi o tema da segunda mesa. A secretária adjunta do Pará, Heloísa Guimarães, apresentou a estratégia de universalização do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) no estado, que combina frotas terrestre, aérea (com aviões e helicópteros) e fluvial (com ambulanchas e motolâncias) para garantir o atendimento de urgência em um território de dimensões continentais. O Amazonas retornou ao debate para apresentar o Barco Hospital São João XXIII, uma unidade flutuante que realiza desde consultas e exames até cirurgias de média complexidade, navegando pelos rios para atender populações ribeirinhas. Fechando a mesa, Jucimária Galvão, de Tocantins, demonstrou como o fortalecimento dos Hospitais de Pequeno Porte (HPPs), por meio de cofinanciamento estadual, tem sido crucial para a realização de cirurgias eletivas, aumentando a capacidade de resposta da rede.

Tecnologia e Educação como Ferramentas de Transformação

A terceira mesa, mediada por Stephan Sperling, do Hospital Sírio-Libanês, focou nas tecnologias do cuidado. Mato Grosso apresentou o aplicativo Tele-Estomatologia-MT, uma ferramenta que permite o diagnóstico a distância de lesões bucais, conectando profissionais da atenção primária a especialistas. O Maranhão detalhou a integração da linha de cuidado oncológica, que estruturou o fluxo do paciente desde a Unidade Básica de Saúde (UBS) até o tratamento especializado, quadruplicando o número de pessoas atendidas na região de Bacabal. Rondônia, por sua vez, expôs como a implementação de Contratos de Gestão Hospitalar tem qualificado a assistência e a governança, com metas e monitoramento de indicadores.

Stephan Sperling apresentou o projeto Cuidado Especializado Digital, uma parceria do Hospital Sírio-Libanês, via Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS), com a Secretaria de Saúde Indígena (SESAI) que utiliza a telessaúde para levar cuidado especializado a territórios indígenas, com mediação cultural e foco em problemas como diabetes e saúde materno-infantil.

O papel da formação de profissionais foi o tema do último painel do dia, mediado por Haroldo Pontes, assessor técnico do Conass. As Escolas de Saúde Pública (EESP) mostraram seu protagonismo. A EESP de Rondônia apresentou a atuação da residência em enfermagem obstétrica em comunidades ribeirinhas. A do Tocantins, o projeto Juntos pela Vida, que qualifica profissionais para a redução da mortalidade materna. Por fim, a EESP do Maranhão destacou seu trabalho de governança da educação permanente, com um forte viés decolonial e de valorização dos saberes tradicionais, mostrando a importância de formar profissionais de saúde com um olhar crítico e culturalmente sensível.

O dia foi encerrado com o lançamento oficial do portal AVE-SUS, que já nasce com um acervo rico e diverso, refletindo a potência e a criatividade da gestão do SUS na Amazônia. Os trabalhos da CTAS continuam nesta quarta-feira (16) com uma visita técnica ao Centro Integrado de Inclusão e Reabilitação (CIIR), em Belém.

Assessoria de Comunicação do Conass