Aleitamento materno: projeto do Conass promove esta prática em todos os níveis de atenção no SUS

Mais do que um ato de amor, amamentar é uma ferramenta poderosa na redução da mortalidade infantil e materna. Promover e incentivar esta prática em todos os níveis de atenção no Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da educação não só da mãe como também de todo o seu entorno, é fundamental para prevenir diversas doenças que podem acometer o recém-nascido, como também favorece a recuperação mais rápida da mãe.

É o que explica a enfermeira e consultora de amamentação, Maíla Martins Oliveira. “O aleitamento materno é uma das principais iniciativas que estão relacionadas à redução da mortalidade infantil. O ato por si só já é uma promoção da saúde, pois o leite materno é o alimento que está pronto para o bebê desde as primeiras horas de vida”, explicou.

O leite materno é um alimento de ouro, quando o bebê nasce, vem o primeiro leite em gotículas, chamado de colostro, que é a quantidade ideal para os recém-nascidos, que têm uma capacidade gástrica mínima, de 5 a 7 ml, no primeiro dia de vida. “É próprio para ele. É necessário que a mãe tenha esse conhecimento, para entender que essa produção é o suficiente para que o bebê consiga mamar, e ela não sinta incapaz de amamentar ou que produz pouco leite”, disse Maíla.

Maíla conta que no segundo momento, a partir de 30 horas, com variações de até 72 horas, a depender do tipo do parto e das intercorrências, a mãe vai passar por um período de apojadura, popularmente conhecido como descida do leite. “Gosto de trabalhar com essa terminologia porque o colostro já é leite e ele tem mais anticorpos. Ele tem muita vitamina A e tem laxante para eliminar as primeiras fezes (mecônio) do bebê”, explicou. Ela fala que durante esse processo, a capacidade de estômago do bebê também vai aumentar e aquele recém-nascido que tinha estômago de 5 a 7 ml, no terceiro dia vai passar a ter de 24 a 27 ml, aumentando cada vez mais.

Para além de um alimento fundamental, a amamentação traz inúmeros benefícios. “Para a saúde da criança, o aleitamento diminui a ocorrência de diarreias, aumenta a imunidade, infecções, que são as principais causas de morte entre recém-nascidos, redução de diabetes, de obesidade e diminuição de alergias. Já para a mulher, as chances de desenvolver câncer de mama e de ovário reduzem significativamente”, afirmou.

O Ministério da Saúde recomenda que a amamentação seja feita de forma exclusiva até o sexto mês de vida. A alimentação sólida só deve ser inserida após esse período. Ainda é recomendado que as crianças sejam amamentadas até dois anos ou mais, em conjunto com uma alimentação saudável.

Vínculo entre a mãe e bebê e a importância da rede de apoio

O momento da amamentação pode e deve ser prazeroso para ambos. É neste momento que o vínculo entre mãe e bebê é fortalecido, sendo realizadas as primeiras interações, após a saída do bebê do útero. É quando a mãe olha para o bebê, fala com ele, o toca e sorri, conversa, aumentando a conexão com a sua criança. “A vinculação com o filho libera a ocitocina, que é o hormônio responsável pela ejeção do leite, além disso, ela tem uma contração uterina favorecendo o retorno mais rápido do útero e diminuindo a hemorragia, tanto a imediata pós-parto quanto as hemorragias que podem acontecer nos primeiros dias”, contou Maíla.

Além disso, o apoio e o incentivo dos familiares, dos profissionais de saúde e da comunidade no período de amamentação são fundamentais para que a mãe possa desempenhar esse papel da maternidade com mais tranquilidade. “O trabalho dos profissionais de saúde não é somente com essa gestante. Ele permeia todas as camadas da população, porque a mãe precisa de uma rede de apoio fortalecida”, frisou.

Priscila Rabelo, consultora do Conass, fala também que é fundamental que a rede de apoio da mãe seja fortalecida desde a descoberta da gestação. “Desde o início da gestação a questão do aleitamento é reforçado com o pai ou quem acompanha a gestante.  A amamentação não é feita sozinha. Quem amamenta é ela e toda sua rede de apoio dando todo suporte”, falou Priscila.

Rabelo reforça que a amamentação pode ter um efeito protetor sobre a saúde psicológica materna. “Não precisa ser só a família, são os profissionais, pode ser o pai, ou a amiga que apoia, o avô, a avó, todo o entorno dela. Uma rede de apoio que forneça informações de qualidade, que vai ter esses conhecimentos para conseguir apoiá-la nos momentos que ela não conseguir”, contou.

Aleitamento materno dentro da Planificação da Saúde

A Planificação da Atenção à Saúde, projeto desenvolvido pelo Conass desde 2004, organiza os níveis de Atenção à Saúde, tendo como premissa a atenção primária como ordenadora da rede, fornecendo apoio técnico às equipes gestoras municipais e trabalhadores da área, para qualificar a organização das Redes de Atenção à Saúde. “A Rede é dividida por linhas de cuidado, e uma delas é a Rede Materno Infantil. A Linha de Cuidado Materno Infantil tem como finalidade a organização da atenção e assistência nas ações do pré-natal, parto, puerpério e o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento das crianças”, disse Maria José Evangelista, assessora técnica do Conass.

Evangelista explica que a estratégia da linha Materno Infantil entende que a amamentação é fundamental para o bebê, a mãe e a família. Para que isso aconteça de forma efetiva, a Planificação promove oficinas teóricas e consultorias para os profissionais de saúde dentro das Unidades de Saúde. “Nas oficinas, os profissionais de saúde são orientados a conversarem com as gestantes e a família desde o início da gestação, mostrando como é feita a amamentação para que a experiência seja a mais prazerosa possível”, disse.

Do ponto de vista prático, Priscila explica que após as oficinas, a planificação funciona com visitas do agente comunitário incentivando o aleitamento, com o atendimento do médico, do enfermeiro e do dentista. “Temos também a visita puerperal, que é feita pela equipe para estimular e orientar a mãe na fase inicial do aleitamento, que é o período mais difícil para ela”, falou.

Priscila conta que os resultados são muito positivos para as gestantes que são monitoradas em casa e no ambulatório. “Nós observamos que nos territórios em que ocorre a Planificação, existe uma adesão maior do aleitamento materno exclusivo durante os seis meses, isso implica em uma redução na taxa de internação em decorrência de infecções”, disse.

Vale ressaltar que o aleitamento materno pode melhorar a qualidade de vida das famílias, porque as crianças amamentadas adoecem menos, consequentemente necessitam de menos atendimento médico, hospitalizações e medicamentos.

Conheça mais a Planificação da Atenção à Saúde no documentário especial sobre o projeto e no vídeo técnico, disponíveis no canal do Conass no Youtube.

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