Atendimento a distância garante assistência a pessoas com diabetes durante pandemia

Durante os primeiros meses da pandemia de Covid-19, 78% das pessoas com diabetes no País interromperam o acompanhamento de rotina. Boa parte deste grupo nem sequer remarcou a consulta. Os dados, apresentados durante o Debate Virtual promovido pelo Conass no último dia 16 de outubro, reforçam  a importância de renovar as formas de acesso aos serviços de saúde, aos medicamentos para o controle da doença e de garantir a adesão ao tratamento.

“A  situação é grave. Mais um motivo para se alertar sobre a necessidade de a atenção primária voltar a todo vapor, fazer uma busca de pacientes que estão sem tratamento”, afirmou a assessora técnica do Conass, Maria José Evangelista, moderadora do evento.

Os números da pesquisa foram citados pela coordenadora do Departamento de Saúde Pública da Sociedade Brasileira de Diabetes, a endocrinologista Karla Melo. O levantamento, feito por telefone, revela ainda uma combinação preocupante. Além de reduzir as consultas, pessoas com diabetes diminuíram de forma expressiva a atividade física, aumentaram a ingestão de alimentos, passaram a ficar mais tempo assistindo à TV ou com equipamentos eletrônicos. Mais da metade dos entrevistados (60%) apresentou variação da glicemia.

Participantes ressaltaram a importância de renovar as formas de acesso aos serviços de saúde durante a pandemia

Os dados, que por si só já chamam a atenção, ganham dimensão ainda maior quando se leva em consideração que pessoas com diabetes são as que têm maior risco de complicação para Covid-19. “A melhor forma de se evitar que um paciente com diabete não tenha uma evolução da forma grave do novo coronavírus é justamente melhorar o controle glicêmico”, disse Karla, durante o evento.

O debate, que contou com a participação do assessor técnico do Conasems, Elton Chaves, mostrou haver alternativas para esse cenário. Experiências no Distrito Federal e nas cidades gaúchas de São Sepé e Santa Maria deixam claro que, com organização, técnica e amparo da tecnologia é possível garantir o acesso da população a tratamento de qualidade. E, apesar da distância física em alguns casos, manter ou conquistar a proximidade entre profissional de saúde e o paciente. “É preciso aprender a aprender”, resume a diretora das Ações de Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de São Sepé,  Sabrina Santos Wegner-Schröde.

 Logo nos primeiros meses da pandemia, a equipe de São Sepé recorreu à tecnologia.  Profissionais receberam telefones celulares para facilitar o acompanhamento de pacientes e o autocuidado foi reforçado. A coordenadora ambulatorial do Hospital Regional de Santa Maria/RS, Marta Wolf, por sua vez, conta que o atendimento não parou. Graças à confirmação de consultas, aos encaixes e remarcações, as metas de atendimento foram ultrapassadas.

A experiência no Centro de Atenção ao Diabético e Hipertenso do Distrito Federal também comprova que é possível prestar atendimento de qualidade, mesmo com as limitações impostas pela Covid-19. O endocrinologista Marcos Noronha afirma que, logo que primeiros casos da doença foram confirmados no País, o serviço reorganizou o atendimento presencial e implantou o teleatendimento para determinadas situações. “As primeiras consultas sempre são presenciais. A partir do levantamento de dados, traçamos um perfil de quem poderia ter atendimento presencial, quem poderia receber teleconsulta”, conta o médico. Nessa nova lógica, receitas e planos de cuidado podem ser encaminhados por aplicativos. “Há vantagens. O fato de a pessoa poder ser atendida por vídeo, em casa, próximo da família, reduz o absenteísmo, poupa o paciente de longas jornadas até chegar ao consultório”, garante Noronha. As receitas vão por aplicativos. Os exames são marcados com o auxílio da equipe, o que facilita o retorno. “Por incrível que pareça, o vínculo com profissional, que está mais disponível, aumenta.” E com maior vínculo, a adesão ao tratamento também melhora. Para Noronha, a teleassistência veio para ficar. Há alguns entraves, como a instabilidade da rede em algum momento ou o fato de o aparelho não ser compatível para chamadas por vídeo. “Nossa experiência mostra que poucos foram os casos que necessitaram de consulta presencial. O teleatendimento é um divisor de águas. Não há dúvida de que vamos ter um modelo híbrido”, avalia. Elisa Guerra, médica endocrinologista do Hospital Regional de Santa Maria, reforça. “Vamos viver de forma diferente, com cuidados diferentes.”

Assista na íntegra: