
Fortalecer a gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) por meio do uso inteligente de dados e da tecnologia. Com esse objetivo, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) deu início, nesta quinta-feira (11), ao Fórum de Saúde Digital. O evento, realizado em Fortaleza, sedia o 6º Encontro Nacional da Rede Cieges e marca a inauguração oficial do Centro de Inteligência Estratégica para Gestão Estadual do SUS do Ceará (Cieges/CE), o 16º a ser implantado no País com o apoio do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).
Realizado na Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE), o encontro reúne gestores estaduais, técnicos e especialistas em formato híbrido, contando com a participação de cerca de 300 pessoas presencial e remotamente, garantindo a capilaridade das discussões para todo o Brasil.
Na abertura oficial, a anfitriã do evento e presidente do Conass, Tânia Mara Coelho, reforçou que a inovação tecnológica e a pesquisa devem ter repercussão real na assistência. Para a gestora, o Cieges materializa essa diretriz ao promover a integração e o compartilhamento de saberes entre os estados: “Não tem nada que tenha que ficar preso com a gente. A gente tem que dar para os outros tudo o que puder de melhor. O Cieges promove esse estar junto”, ressaltou.
Tânia Mara também destacou a importância da gestão tripartite e o papel fundamental do Conass na construção de consensos que garantam a efetividade do sistema. Ao saudar o secretário executivo do Conselho, Jurandi Frutuoso, presente no evento, ela enfatizou a segurança institucional que a entidade proporciona aos gestores. “É o SUS, com o governo federal, estados e municípios juntos, divergindo muitas vezes, mas sempre chegando a consensos para construir políticas de saúde”, pontuou, ressaltando que a missão final de quem trabalha com dados é transformar a vida das pessoas.
A secretária sublinhou ainda o apoio político necessário para a modernização da gestão, agradecendo ao governador Elmano de Freitas pela autonomia concedida à pasta da Saúde e reconheceu o trabalho das equipes técnicas e o apoio da Rede Cieges. “Cada estado tem inovações, tem coisas boas que estão sendo produzidas, e a gente tem que repassar isso em prol de uma coisa muito objetiva: dar o melhor pra nossa população”, concluiu.
A Força da Rede e a Cultura de Saúde Pública
O secretário executivo do Conass, Jurandi Frutuoso, exaltou a tradição do Ceará como celeiro de políticas públicas que se tornaram modelos nacionais, como a regionalização e a Estratégia Saúde da Família. Frutuoso destacou que a inteligência e a vontade de enfrentar desafios transformam fragilidades em força, uma lógica que se aplica diretamente à gestão de dados. “O que é produzido com recurso público não pode ficar sob domínio restrito; é patrimônio do País. Por meio dos Cieges estaduais, teremos nossa capacidade de trabalho multiplicada ao dividir isso com os estados”, afirmou, celebrando a presença de representantes de diversas unidades da federação e a meta de universalizar a rede em curto prazo.
Frutuoso enfatizou ainda, a eficiência do SUS que, mesmo diante do subfinanciamento, alcança resultados expressivos na melhoria da expectativa de vida da população. Para ele, o valor estratégico dos centros de inteligência reside na otimização desses esforços coletivos. “Só produzir dado, mas não usá-lo para a gestão, não vai valer. O que vocês estão organizando é transformar dado em informação e em potencial de tomada de decisão qualificada para o bem do povo”, finalizou.
Resiliência e Inteligência na Gestão do SUS
A programação técnica teve início com a palestra magna do secretário executivo do Ministério da Saúde, Adriano Massuda, que classificou a criação dos Centros de Inteligência como uma iniciativa “extremamente importante” coordenada pelo Conass. Massuda revelou que acompanha o projeto não apenas como gestor federal, mas também como pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV), monitorando a implementação da Rede no Brasil. Para ele, o Cieges representa uma oportunidade de integrar ações e superar a fragmentação de dados em um sistema descentralizado.
Em sua exposição, Massuda aprofundou o conceito de “resiliência” aplicado aos sistemas de saúde, indo além da sustentabilidade financeira. Citando exemplos recentes de emergências climáticas e epidemiológicas, como a pandemia de Covid-19, ele argumentou que a imprevisibilidade passou a fazer parte da rotina da gestão. “O sistema tem que estar preparado para absorver choques, responder rapidamente e aprender com as crises”, afirmou, destacando que a inteligência de dados é a ferramenta central para essa adaptação e para a manutenção da capacidade de resposta do SUS frente a novos desafios.
O secretário executivo também abordou um gargalo crítico: a existência de grandes volumes de dados que não se transformam em conhecimento aplicado. “Dado só se qualifica como informação quando você usa. Se você não usa, é apenas registro”, alertou. Massuda concluiu apontando os Cieges como uma inovação institucional capaz de qualificar a tomada de decisão, permitindo que os gestores aloquem recursos com mais eficiência e protejam a população de gastos excessivos em saúde, transformando sistemas analógicos em digitais e resolutivos.
Lançamento de Livro
Um dos destaques da manhã foi o lançamento do livro “Transformação Digital no SUS – o que você precisa saber”. A publicação nasce com a missão de traduzir a complexidade da revolução tecnológica em saúde para uma linguagem acessível, apresentando conceitos fundamentais, diretrizes nacionais e exemplos práticos de forma didática.
O guia busca aproximar gestores e trabalhadores deste universo e fortalecer a cultura de dados no SUS, reforçando a visão de que a tecnologia deve ser transversal às políticas públicas para garantir mais eficiência, agilidade e impacto no cuidado. A obra, que serve como ferramenta para superar desafios estruturais a partir de uma visão colaborativa e orientada à inovação, já está disponível gratuitamente na biblioteca digital do Conass.
A Rede Cieges e o Fortalecimento da Gestão
A Rede de Centros de Inteligência Estratégica para a Gestão Estadual do SUS (Rede Cieges) é um projeto de colaboração técnica que visa qualificar a gestão estadual.
Os centros funcionam como núcleos de inteligência que compilam, tratam e analisam dados de diversas fontes, transformando números brutos em painéis de monitoramento e informações estratégicas. Isso permite que os secretários de saúde antecipem cenários, identifiquem gargalos assistenciais e aloquem recursos com maior precisão e equidade.
O processo de implantação no Ceará, assim como nos outros 15 estados que já contam com a estrutura, envolveu oficinas de alinhamento conceitual, construção de repositórios de dados e definição de prioridades locais, sempre com a assessoria técnica do Conass.
Programação Técnica
O Fórum segue ao longo desta quinta-feira com debates cruciais para a administração pública, incluindo palestras sobre a Lei Geral de Proteção de Dados aplicada à saúde, Telessaúde e Regulação Inteligente.
A programação continua na sexta-feira (12), na sede da Secretaria da Saúde do Ceará, onde os participantes farão uma visita técnica às instalações físicas do novo Cieges. O segundo dia será dedicado à apresentação de experiências exitosas da Rede e das iniciativas de Transformação Digital do governo cearense.
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Assessoria de comunicação do Conass