A obrigatoriedade do LIRAa, em 2017, e a reestruturação dos Lacens ganharam destaque na fala do secretário de Vigilância em Saúde, Adeilson Loureiro Cavalcante, no primeiro dia da Reunião Macrorregional sobre Arboviroses Urbanas, realizada em Brasília. O evento, que prossegue até sexta-feira (09), conta com a participação de representantes das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, dos Conselhos Estaduais e Municipais de Saúde e de técnicos de coordenações do Ministério da Saúde (DEVIT, SVS, SAS, SCTIE).
“Precisamos fazer algo mais eficiente, buscar dados validados, para que sejamos capazes de dar uma resposta mais efetiva aos desafios. Por isso é necessário saber como está a infestação, por meio do LIRAa, e qualificar os diagnósticos, fortalecendo os Lacens”, disse o secretário ao salientar que seu objetivo é aproximar, cada vez mais, o Ministério das secretarias municipais e estaduais de Saúde. Ele revelou ainda que a SVS já está fazendo uma investigação para saber a situação dos laboratórios e tomar as medidas cabíveis.
O diretor do Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis (DEVIT/SVS), Eduardo Hage, ao dar boas-vindas aos participantes, também defendeu a obrigatoriedade do LIRAa, que segundo ele é uma importante ferramenta para traçar estratégias de prevenção e controle do Aedes aegypti. Para Hage, “o encontro é uma oportunidade de alinhar e atualizar o conhecimento das principais questões que envolvem dengue, zika e chikungunya, bem como de alertar aos gestores municipais que, apesar da mudança de administração, as atividades dos profissionais de saúde precisam ter continuidade”.
Além dos pontos destacados por ambos os representantes da SVS, a comunicação e a importância da integração das ações foram amplamente debatidas por técnicos e participantes durante as apresentações.
Cenário da dengue, zika e chikungunya
Até meados de novembro, o número de casos de dengue e de óbitos em virtude da doença apresentou redução, passando de 1.598.013 casos em 2015 para 1.475.940 em 2016. E de 950 mortes em 2015, para 590 em 2016. Os dados foram apresentados pela coordenadora-geral dos Programas de Controle da Malária e das Doenças Transmitidas pelo Aedes (CGPNMD/SVS), Ana Carolina Santelli.
Ao falar sobre a atual situação epidemiológica das arboviroses no país e balanço das ações realizadas, ela salientou a queda dos casos de dengue e ressaltou o grande aumento de pessoas com chikungunya, que passou de 31.418 em 2015 para 259.928 para 2016.
“Atualmente a preocupação está voltada para chikungunya, especialmente na Região Nordeste, por isso é muito importante estarmos preparados para 2017. O LIRA mostra que 62,6% dos municípios estão com índice satisfatório, mas que 37,4% estão em estado de alerta ou em risco”, disse Ana Carolina Santelli.
Apesar de não ter como traçar um paralelo dos casos de zika de 2015, quando começaram os primeiros relatos e a doença era considerada “branda”, com os de 2016, Santelli observou a relevância do número de casos este ano, que até novembro era de 210.897, sendo que deste total 10.608 são gestantes já com confirmação laboratorial da doença. “Por isso é fundamental que as ações de vigilância, de controle vetorial e de assistência ocorram de forma articulada, visando o controle dessas doenças”, concluiu.
Já Geovanny França, técnico da Coordenação Geral de Vigilância e Resposta às Emergências em Saúde Pública (CGVR/SVS), reforçou a importância de monitorar os casos e acompanhar a evolução dos mesmos para confirmação ou descarte, a fim de se traçar um cenário nacional.
Como exemplo ele citou o vírus Zika, mostrando uma linha do tempo com os primeiros alertas ao longo de 2015, as formas de transmissão e as consequências relatadas em virtude da infecção. “O objetivo é superar a capacidade de atuação das esferas estadual e municipal, gerando dados confiáveis, fundamentais para elaboração de conhecimento (publicações, protocolos) e assegurar uma resposta oportuna”.
Integrando vigilância e assistência
O novo protocolo da saúde que integra vigilância e assistência e que amplia a definição de casos para garantir cuidado a todas as crianças também foi apresentado no encontro. Algumas das diretrizes presentes no documento, ganharam destaque na fala de Mariana Leal, assessora de gabinete da SAS/MS.
Ela salientou que evidências científicas apontam que mesmo bebês com perímetro cefálico normal podem apresentar danos no desenvolvimento por causa do vírus Zika, e revelou que crianças de mães infectadas devem ser acompanhadas até os três anos de idade para definição de diagnóstico.
Mariana Leal disse ainda que o governo federal concedeu benefícios às famílias de crianças com microcefalia. “Até agora são cerca de 2,2 mil solicitações, sendo que dessas 1.532 já foram concedidas, 106 estão agendadas e 633 foramindeferidas prioritariamente por critério de renda”, explicou ao complementar que essas famílias terão direito a um salário mínimo.
Ao mencionar as novidades do novo documento ela citou que o protocolo será focado nas Infecções Congênitas e traz a inclusão de novos critériosprocedimentos para definição das ações de vigilância e de atenção às crianças suspeitas de síndrome congênita associada à infecção pelo vírus Zika, tais como:
•Circunferência Craniana/Perímetro Cefálico
•Sinais e Sintomas
•Notificação tardia
•Teste Rápido de Zika
•2º Ultrassonografia Obstétrica
•Transmissão sexual e sanguínea
•Orientações sobre o registro no RESP,SINASC,SIM,SINAN, entre outras.
Troca de experiências
Após as palestras dos técnicos do Ministério da Saúde, foram apresentados relatos de experiências dos estados de Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Norte, Espirito Santo e Mato Grosso do Sul. As histórias, além de evidenciar o cenário das arboviroses em cada localidade, também mostraram mecanismos que estão sendo utilizados a fim de prevenir epidemias. Esse é o caso de Natal, no RN, que criou um sistema de identificação de sinais e alarmes para epidemias de arbovírus e um mapeamento de áreas de risco para detecção de surto.
Na avaliação de Alessandre Tavares, chefe do Centro do Controle de Zoonoses da SMS/Natal, o mapeamento também contribui para mobilização social. “Acompanhando o projeto do MS da ‘Sexta sem mosquito’, nós elegemos toda semana um bairro crítico e vamos mobilizar a população para tentar sensibilizá-los a tomar medidas que são tão simples e que evitam tantos males”, observou ao afirmar que a campanha deste ano está mais agressiva. “Mas acho necessário ser mais agressiva. A população já sabe os mecanismos de prevenção, o desafio é fazer esse conhecimento virar atitude. Essa é a parte mais difícil”, completou.
Fonte: SVS/MS