Fernando Cupertino: “Pensar que a COVID-19 é democrática não faz sentido”

O médico brasileiro Fernando Cupertino, membro do Conselho do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa (IHMT-NOVA) alerta que existe uma questão que se impõe no âmbito dos Países de Língua Portuguesa: o desenvolvimento e o combate às desigualdades. Para o coordenador técnico do CONASS – Conselho Nacional de Secretários de Saúde a ideia de que a “COVID-19 é democrática não faz sentido nenhum”.

O alerta foi expresso por Fernando Cupertino, também professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás, na Maratona de Lives da SAHE’21, que decorreu no dia 15 de setembro, com o tema “O Brasil e os países lusófonos: desafios para uma agenda integrada na saúde”.

A entrevista foi conduzida por Ricardo Valentim, coordenador do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (Lais) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e presidente do comité científico do Masterclass de Inovação na Saúde.

Para Fernando Cupertino é fundamental discutir a questão do desenvolvimento e do combate às desigualdades no âmbito dos Países de Língua Portuguesa. “Essa é uma pauta comum, que precisa de ser enfrentada e extrapola os limites de saúde, embora a influencie.” Numa época em que a COVID-19 é uma preocupação mundial, o médico alerta que a doença “não tem nada de democrática”.

“Quem paga o preço são sempre os mais vulneráveis, os que têm menor acesso à saúde, piores condições de alimentação, habitação e menor possibilidade de mobilidade”, acrescenta. Para Fernando Cupertino mencionar que a pandemia mundial é democrática “não faz sentido nenhum quando pensamos por exemplo numa favela do Rio de Janeiro em que as pessoas nem sequer têm água para lavar as mãos”.

O especialista em Saúde Coletiva explicou também que encara a globalização como “a partilha do conhecimento humano em favor das populações do globo”. E vai mais longe: “como cidadãos planetários temos a obrigação de partilhar o conhecimento, ensinar e aprender com os outros”.

No âmbito da CPLP é muito importante que os Governos dinamizem os mecanismos e recursos necessários para uma agenda integrada e positiva que possa ajudar o conjunto dos países a combater as desigualdades, construindo “uma agenda de interesses comuns, sem cair no pecado, de seguir o modelo clássico ultrapassado de uma colaboração unilateral”.

O médico e professor realçou igualmente que na “CPLP existe a preocupação de partilha do conhecimento, tentando identificar as necessidades e as potencialidades na cooperação, porque todos os países têm algo a aprender e a ensinar os outros”. Para o especialista em Saúde Coletiva mais do que intercâmbios na saúde é importante “estabelecer intercâmbios de cunho cultural”, porque ao considerar esta premissa todos se igualizam no mesmo patamar, colocando-se a sílaba na tónica na necessidade de bebermos da experiência um dos outros”.

Como um exemplo de boas práticas Fernando Cupertino mencionou o IHMT-NOVA que “tem promovido muitos seminários transmitidos na Web com profissionais dos países do continente africano, brasileiros, portugueses, trocando experiências, debatendo aspetos relacionados com a COVID-19 desde políticas de saúde à questão do diagnóstico, testes laboratoriais, terapêutica ou perspetivas de organização de sistemas.”

O diretor do IHMT-NOVA, Filomeno Fortes, que assistiu à “live” elogiou num comentário o entrevistado. “O professor Cupertino tem uma grande visão sobre saúde e as suas envolventes sociais, políticas e regionais.”