Fiocruz promove encontros e busca a inclusão da saúde na Rio+20

Há poucos meses do início da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, o meio ambiente é tema de debates e reflexões em todo o mundo. A chamada economia verde e a necessidade da adaptação do modelo produtivo a uma realidade transformada pelas mudanças climáticas estão entre os principais assuntos a serem discutidos no encontro global, que será realizado de 20 a 22 de junho, no Rio de Janeiro. Porém, um dos principais elementos de um mundo sustentável tem ficado à margem dos assuntos trazidos pela conferência: a saúde.

O assunto foi apresentado na quarta-feira (12/3) no seminário Saúde ambiental e Rio+20 na ação da Fiocruz, o primeiro de uma série de encontros promovidos pelo Museu da Vida da Fundação para discutir temas ligados à conferência. Além de um documento sobre saúde ambiental, a Fiocruz produzirá livros e edições especiais de revistas acadêmicas sobre pesquisas que articulem saúde, ambiente e sustentabilidade. “É preciso que esses conhecimentos cheguem ao grande público, já que o espaço local é produto e produtor da realidade global que queremos transformar”, ressalta o assessor da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz e integrante do Grupo de Trabalho para a Rio+20, Francisco Netto. O próximo encontro será em 12 de abril, também no Museu da Vida.

No chamado “esboço zero”, a primeira proposta para o documento a ser adotado ao final da Rio+20, feita pelo secretariado da conferência reunindo as contribuições nacionais de todos os estados-membros, não há nenhuma menção direta ao tema. Para preencher essa lacuna, a Fiocruz está preparando o documento Saúde, ambiente e desenvolvimento sustentável. Após consulta pública, que poderá ser realizada por meio de um site, a ideia é apresentá-lo na conferência e buscar, junto ao Ministério da Saúde, a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas/OMS) e outras instituições da sociedade, a inserção do assunto na pauta da Rio+20. “É impossível pensar em um mundo sustentável sem articular a preservação do ambiente com a saúde humana”, afirma Francisco Netto. “O desenvolvimento sustentável engloba mais do que a conservação ambiental e a saúde não é apenas assistência médica, ela é determinada por fatores socioambientais”, completa.

Existem diversos fatores ambientais – naturais ou não – que têm impacto na saúde humana. Poluição atmosférica, falta de saneamento básico, o problema do lixo, vetores de doenças, como a dengue, e as catástrofes, como as enchentes e secas, são alguns deles. Nesse contexto, as mudanças climáticas e os danos causados pelo homem ao ambiente se viram contra ele próprio, na forma de problemas de saúde. “Das doenças que temos hoje, 30% são causadas por fatores ambientais”, revela Netto.

Um modelo produtivo insustentável -Um dos principais temas a serem discutidos na Rio+20 é a chamada economia verde, baseada no desenvolvimento sustentável. “Estamos finalmente chegando à conclusão de que o modelo produtivo vigente, baseado no consumo desenfreado, em uma matriz energética extremamente poluente e na exploração contínua dos recursos naturais, não se sustenta”, constata Netto. O desafio vivido atualmente pelos líderes de governos e por toda a sociedade é a adaptação desse modelo para uma realidade afetada pelas mudanças climáticas, de forma que o desenvolvimento econômico continue acontecendo.

No âmbito da saúde, um dos principais efeitos negativos desse modelo produtivo encontra-se em um dos pilares básicos da vida humana: a alimentação. A alta concentração de agrotóxicos que sustentam a economia da monocultura, largamente utilizada no Brasil, causa danos a todos os pontos da cadeia. “São afetados desde o solo até o empregado que borrifa o agrotóxico e por último as pessoas que consomem o alimento, já que as toxinas vão se acumulando no organismo ao longo do tempo”, explica Netto.

Portanto, segundo ele, é preciso levar em conta as questões da saúde ao pensar o desenvolvimento sustentável. Para isso, a Fiocruz participará ativamente da Rio+20, tanto nas discussões institucionais quanto nas de inovação tecnológica, e também na Cúpula dos Povos, evento paralelo organizado por entidades da sociedade civil brasileira e internacional entre 15 e 23 de junho, também no Rio de Janeiro.

Fonte: Tatiane Leal / Agência Fiocruz de Notícias