Hemobrás: exemplo no fortalecimento do complexo industrial da Saúde

Investir no Complexo Industrial da Saúde no Brasil e fortalecê-lo sempre foi uma reivindicação dos gestores do Sistema Único de Saúde (SUS), sendo, inclusive, pauta de uma das propostas que está no documento feito pelo Conass para os candidatos e às candidatas à presidência da República. E fortalecer este setor, expandindo-o e qualificando-o, significa também fortalecer o SUS, ampliando a sua capacidade de ofertar ações e serviços para toda a população de maneira independente da indústria internacional.

Atualmente, a Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás) representa uma experiência positiva de como o complexo industrial pode contribuir com a saúde pública no país.

Tendo iniciado as suas atividades em 2005, a Hemobrás realiza desde então, pesquisas, trabalhos de auditoria em hemocentros e, mais recentemente, deu um grande passo que contribuirá para a produção nacional e a superação da dependência internacional de insumos derivados do sangue: a construção da maior fábrica de hemoderivados da América Latina, no município de Goiana, em Pernambuco.

Leonardo Vilela, assessor técnico do Conass, e membro do Conselho de Administração da Hemobrás esteve recentemente nas instalações da fábrica que, apesar de ainda não estar funcionando em cem por cento da sua capacidade, já recolhe plasmas de vários hemocentros do Brasil e os envia para o exterior, recebendo-os na forma de hemoderivados que são enviados para o SUS. “Desde o final do ano passado isso é feito e já temos por exemplo, imunoglobulina oriunda do plasma brasileiro ajudando a mitigar a falta deste produto nos hospitais do Brasil e isso é extremamente importante”, disse.

Segundo Vilela a fábrica, que funcionará plenamente em 2024, tem o potencial de, em poucos anos, produzir e fornecer praticamente 100% de todos hemoderivados e insumos biotecnológicos, que são aqueles produzidos por meio de engenharia genética, como o fator recombinante Hemo-8r, por exemplo. “Isso vai garantir que o SUS não tenha falta desses medicamentos em virtude de uma crise, uma guerra ou uma catástrofe natural. Vai garantir que os brasileiros tenham acesso a esses medicamentos e que não fiquem à mercê de contingências internacionais, como vimos por exemplo, durante a pandemia”, destacou.

Para o presidente da Hemobrás, Antonio Edson Lucena, a pandemia de Covid-19 mostrou o perigo às nações por não terem a produção de medicamentos, sobretudo os mais estratégicos como os hemoderivados. “Um dos hemoderivados mais importantes e de maior consumo no mundo é a Solução de Imunoglobulina, que corresponde aos anticorpos purificados e concentrados contidos naquele plasma. A oferta desse medicamento foi drasticamente diminuída desde o início da pandemia”, disse.

Medicamentos

Antonio explicou a importância da produção dos medicamentos feitos pela Hemobrás, que são destinados aos tratamentos de uma ampla gama de doenças. “Atualmente, esses medicamentos apresentam preço de aquisição elevado devido às condições e à estrutura de mercado externo. A produção em solo nacional dos medicamentos é de extrema importância, porque reduz a vulnerabilidade científica e financeira do país diante do mercado internacional”, disse.

Para o presidente, a dependência externa nesse setor pode deixar o país sujeito até mesmo à falta de medicamentos, influenciada pelo desequilíbrio entre a oferta e a procura em todo o mundo. “Por isso, a Hemobrás é considerada uma indústria farmacêutica estratégica para o Brasil, que traz independência do mercado externo com a produção nacional de hemoderivados”, afirmou.

Antonio afirma que o Brasil depende hoje de outras nações para a produção de medicamentos constituídos a partir do plasma para o tratamento de doenças do sistema imune, infecções bacterianas e virais, doenças raras, além de queimaduras graves, sangramentos, infecções generalizadas e Síndrome de Guilain-Barré. “Os hemoderivados são medicamentos produzidos a partir do plasma humano, excedente do uso hemoterápico, obtido nas doações de sangue realizadas nos hemocentros brasileiros. Em pleno funcionamento, a fábrica da Hemobrás, será capaz de fracionar até 500 mil litros de plasma por ano e de produzir quatro tipos de hemoderivados de maior consumo no mundo: Albumina, Imunoglobulina e Fatores VIII e IX da coagulação, além do medicamento recombinante Fator VIII (Hemo-8r)”, destacou.

Até o momento, a Hemobrás já entregou quase 1 milhão de frascos de hemoderivados aos centros de saúde do país, destinados prioritariamente ao tratamento de doenças dos pacientes do SUS. “A Hemobrás não só solucionará a dependência externa do Brasil para esses medicamentos biológicos como também, no futuro, poderá contribuir com países da América do Sul para fracionar o seu plasma. A infraestrutura fabril facilitará a absorção de outras tecnologias de interesse público e contribuirá para a pesquisa e desenvolvimento nacional de medicamentos, assim como para a qualificação dos hemocentros brasileiros”, contou.

Ratificando o que o presidente disse sobre o Brasil ser independente, Leonardo Vilela afirmou que a Hemobrás é um exemplo claro de como o fortalecimento do complexo industrial da saúde é fundamental para não ficarmos na dependência de países como China e Índia, principalmente. “A Hemobrás faz parte desse contexto e fico comovido porque ela realmente será um marco da independência do Brasil em relação a esses produtos oriundos do sangue e o começo da criação de uma indústria de biotecnologia para atender o Sistema Único de Saúde”, comemorou.

Impacto no SUS

O conselheiro técnico científico da Hemobrás, José Francisco Comenalli, falou que os produtos são essenciais para a qualidade de vida de diversos grupos de pacientes. “Muitos com alterações genéticas que demandam constante utilização dessas tecnologias durante toda a vida, se torna fundamental o acesso e a garantia de que sua disponibilidade não seja interrompida, o que se torna mais seguro quanto mais independente de processos comerciais e dependência internacional”, disse ele.

Comenalli destacou que os recursos do SUS são finitos, que se gastar mais em uma determinada área, haverá redução em outras, sendo mais dificultoso o equilíbrio do fornecimento de uma saúde pública integral e universal. “Dessa maneira, como se trata de tecnologias caras, essa economia impactará positivamente em outros programas de igual relevância para um número cada vez maior de pessoas”, finalizou.

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