Into informa: doação de ossos também é possível

O Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into) faz um alerta aos doadores de órgãos. Não só os rins, fígado, coração e córneas podem ser doados, os ossos também podem e são capazes de evitar amputações de membros e devolver a qualidade de vida a muitos pacientes que necessitam de transplante e de enxertos ósseos. Cerca de 30 pessoas podem ser beneficiadas com apenas um doador de ossos.

A vontade de ser doador de ossos deve ser comunicada em vida à família. No momento da captação de órgãos, as famílias são orientadas, mas ainda há resistência em doar os ossos, de acordo com o ortopedista Rafael Prinz, chefe da Divisão de Transplante de Multitecidos do Into. “Infelizmente a recusa por esse tipo de doação chega a 50% entre os doadores. O maior empecilho é o desconhecimento da população sobre os benefícios que esse gesto pode trazer para os doentes”.

O médico alerta ainda que, em nenhuma hipótese, são retirados ossos das mãos, face e crânio. “São captados do doador morto o fêmur inteiro, a tíbia (perna), o úmero (braço) e parte da crista ilíaca (quadril). Os ossos dos membros inferiores e superiores são substituídos por material sintético, mantendo a forma e a aparência do doador preservada para o sepultamento”, explica.

O Into mantém um Banco de Tecidos, único público do país, responsável pela captação, processamento e distribuição de ossos, tendões e meniscos para utilização em cirurgias de transplante ósseo e de enxerto ortopédico no Rio de Janeiro e em outros estados. Os casos clínicos mais frequentes são de perdas ósseas decorrentes de tumores, trocas de prótese e traumatismo, além de pacientes com deformidades congênitas e de coluna e com problemas odontológicos.

Abias Maciel, 33 anos, fez um transplante de osso no Into, substituindo a prótese que usava por um fêmur de doador falecido. “Estou muito bem agora. Estava difícil viver com a fratura porque sentia muitas dores. 24 horas após o transplante já dava para notar a diferença. Parece que é uma nova vida e estou podendo fazer tudo. Essa é a parte benéfica que está sendo maravilhosa”, conta o paciente que é servidor público no Rio de Janeiro e enfrentou um câncer no fêmur em 1994.

O paciente esperou dois anos por uma doação para se submeter ao transplante, realizado em abril deste ano. “Não tinha osso compatível para ele. Graças à doação, conseguimos dar mais qualidade de vida a Abias. Hoje, ele está bem, anda sem apoio e teve alta da fisioterapia”, disse Walter Meohas, ortopedista oncológico que acompanha o paciente.

Transplantes ósseos – De janeiro a agosto deste ano, a captação de 17 doadores de ossos falecidos possibilitou o transplante de 101 pacientes, sendo 57 do próprio Into e 44 de outros hospitais cadastrados no Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde. Entre eles, o Copa D`Or, o Pronto Med do Piauí e o Ortopédico de Goiânia.

As cirurgias de transplante de tecido, que inclui ossos, tendões e meniscos, têm crescido a cada ano. Em 2011, foram realizados 73 transplantes, e em 2010, foram 43 cirurgias deste tipo. Os fragmentos ósseos foram mais utilizados nas cirurgias de quadril, joelho, coluna e em câncer de osso, além de boa parte usada em enxertos odontológicos. Com o total de tecidos processados, desde 2009, já foi possível realizar o total de 344 transplantes.

Como funciona o processo – O processamento é realizado em uma área com rigoroso controle de qualidade, com ar totalmente puro para evitar contaminação por bactérias e vírus, onde são realizados testes e exames bacteriológicos, fúngicos, radiológicos e histopatológicos para minimizar os riscos para a saúde do receptor. Os resultados dos exames vão determinar a aprovação ou não para o transplante. Os tecidos são depois armazenados a uma temperatura de 80 graus negativos, em ultracongeladores com capacidade de armazenar ossos de 50 doadores.

Após liberação para uso, os tecidos atendem a cirurgias realizadas no Into e em outros hospitais cadastrados no Sistema Nacional de Transplantes. Somente o médico ou cirurgião-dentista responsável pelo paciente pode solicitar enxertos ao banco. O enxerto ósseo disponibilizado pelo Banco de Tecidos é totalmente gratuito, sendo financiado pelo Ministério da Saúde.