O tratamento de pessoas diagnosticadas com Covid-19 requer, a depender do caso, cuidados especiais com a alimentação. No Hospital São José (HSJ), da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), a equipe de Nutrição avalia individualmente cada paciente internado com a doença na unidade para definir o tipo de dieta e o modo de preparo dos alimentos, que são selecionados com base em critérios específicos.
Francisca Maria da Silva faz parte do time de 13 nutricionistas do HSJ responsável por acompanhar a rotina alimentar das pessoas hospitalizadas. A profissional explica que, ao dar entrada na unidade, o paciente é submetido a uma triagem nutricional. “Neste momento, nós observamos o que o paciente precisa para definir a terapia de nutrição adequada para ele. Verificamos se existe algum déficit nutricional ou alguma comorbidade, como diabetes, obesidade e hipertensão”, explica.
Outro fator importante a ser analisado diz respeito à respiração. “Se a pessoa estiver com comprometimento pulmonar e insuficiência respiratória, o alimento vai gerar um esforço maior para ela. Dessa forma, indicamos a dieta líquida”, afirma. Em visita ao leito, os nutricionistas também questionam o paciente sobre suas preferências e restrições alimentares, além de verificar possíveis dificuldades de deglutição.
O atendimento humanizado chamou atenção de Diego Valentim Damasceno, internado durante 20 dias no Hospital São José. O jovem de 30 anos relata que a incerteza sobre como seria sua alimentação na unidade foi, em princípio, motivo de angústia. Com o apoio da equipe de Nutrição, o receio deu lugar à tranquilidade. “Todos os dias, a nutricionista passava e fazia um questionário. As moças que entregavam as refeições já sabiam do que eu gostava, o que não gostava. Quando tinha opção, eu nem precisava dizer. Sem falar que a comida é uma delícia, muito melhor que muita quentinha vendida por aí”, elogia.
Ao longo da internação no HSJ, a dieta indicada para Diego acompanhou a evolução do paciente, que apresentou um quadro moderado de Covid-19. “Comecei com dieta zero. Passei dois dias em dieta líquida, com sopa batida, caldo, vitamina, suplemento. E depois fui para a alimentação normal, com comida mesmo”, diz.
De acordo com Francisca, a adaptação é realizada a partir das necessidades do paciente. “Os pacientes com Covid leve vão receber a dieta hospitalar, que pode ser líquida, pastosa, branda ou geral. Nos casos moderados, a depender do comprometimento respiratório e do suporte ventilatório, a dieta também pode ser líquida e pastosa”, detalha.
Casos graves
Pessoas que manifestam a forma mais grave da doença precisam de uma atenção ainda maior. Devido à dificuldade ou impossibilidade de fazer a deglutição, os pacientes, normalmente, passam a receber a chamada nutrição enteral, na qual a alimentação é realizada por tubo ou sonda flexível. “Nestes casos, os pacientes podem apresentar hipermetabolismo e, consequentemente, sofrer uma perda muscular significativa. A nutrição é, portanto, fundamental para amenizar a redução de massa magra”, acrescenta Francisca.
A profissional revela que a pandemia trouxe inúmeros desafios para os nutricionistas. Como a Covid-19 era até então uma doença desconhecida, a equipe de Nutrição foi capacitada para prestar uma assistência adequada às diferentes realidades de cada paciente. A equipe precisou lidar com situações atípicas, como alimentação de pacientes em pronação, técnica que consiste em colocar a pessoa de bruços para diminuir o desconforto respiratório.
“O desafio da pronação nos pacientes com Covid é o risco de broncoaspiração, que é quando o alimento migra para pulmão. Esse risco impõe uma limitação para a nutrição enteral conseguir atingir as necessidades energéticas e proteicas calculadas a partir do peso e da altura de cada indivíduo e, com isso, manter o funcionamento do metabolismo”, continua a nutricionista.
A profissional destaca, ainda, a atuação da equipe para prevenir a translocação bacteriana nos pacientes. Quando este problema ocorre, as bactérias migram do intestino para a corrente sanguínea, ocasionando sepse (infecção no sangue). “Para evitar a translocação bacteriana, os nutricionistas indicam o início precoce da dieta enteral, entre as primeiras 24 e 48 horas da internação. Lembrando que, para ser submetido à terapia, o paciente deve apresentar estabilidade hemodinâmica, ou seja, uma pressão normal”.
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Texto e Foto: Diego Sombra – SES/CE