Oficina capacita equipes sobre Gestão de Caso para redução de Mortalidade Infantil

Criança morta – obra do artista juazeirense Demostenes Fidélis

“Tecnologia para Gestão de Caso para redução de Mortalidade Infantil. Esse é o objetivo para reduzir o problema na região do Cariri, no Ceará. A secretária de saúde do estado, com o apoio do Conass, propuseram a estratégia para toda o território, com uma adesão imediata de todos, para estabelecermos uma meta mobilizadora de reduzir a mortalidade infantil para um dígito, o que significa reduzir e evitar muitos óbitos que vinham acontecendo”.

Esse é o relato do consultor do Conass, Marco Antônio Matos, que reforçou a importância da colaboração de toda a região na busca urgente por melhorias nesses casos. Trata-se de um processo que exige atenção minuciosa, pois a missão é salvar a vida dessas crianças. 

“ Fechamos o ano de 2024 com uma taxa de mortalidade infantil de 9,7 em toda a região. Quer dizer, 9,7 crianças que foram a óbito para cada mil nascidos vivos. Essa é a taxa de mortalidade infantil. Mas, esse ano, ficamos preocupados, pois chegamos no meio do ano com mais mortes do que a gente viu acontecer na metade do ano passado”.

Em sua apresentação, Marco citou a obra do artista do Cariri, Demóstenes Fidélis, que retrata a dor profunda causada pela morte de uma criança. Em diversas regiões do Brasil, cenas como essa ainda se repetem, marcando mães, famílias e comunidades com um sofrimento imenso e, muitas vezes, evitável. Nesse momento de mobilização, a esperança encontra caminhos mais curtos, atravessando as longas distâncias continentais do País. É também nessa hora que o esforço pessoal ganha um valor incalculável.

“Em 70%, os óbitos são evitáveis. A gente precisa fazer isso. É muito importante prestar atenção nesse aspecto da evitabilidade, quer dizer, são óbitos que poderiam ser evitados por algum tipo de cuidado dessa gestante ou dessa criança. Não podemos tomar isso como uma coisa normal. Muitos dizem que é normal que se morram crianças pequenas e que em todo lugar acontece isso. Não podemos aceitar esse tipo de justificativa porque cada óbito é um sinal muito grande para todo o sistema de saúde. A mortalidade infantil representa não somente o sofrimento para aquela mãe e família, ela é um indicador que reflete aquilo que acontece em todo o sistema de saúde”.

Ele ressaltou que, à medida que todos se empenharem e conseguirem vencer a mortalidade infantil, isso também representará a superação de muitos outros problemas que afetam não apenas as crianças, mas toda a população. Marco chamou a atenção para um fator decisivo nos óbitos infantis: a idade gestacional ao nascer. Entre as 594 crianças que morreram nos últimos três anos, 62% eram prematuras. A prematuridade está diretamente ligada à mortalidade, pois o bebê nasce com imaturidade orgânica, fisiológica, imunológica e de desenvolvimento em diversos aspectos. Isso afeta sistemas vitais como cérebro, pulmões, sistema imunológico, aparelho digestivo, fígado, rins, olhos, além do controle da temperatura corporal, dos níveis de açúcar no sangue, da produção hormonal, entre outros. 

“De onde vem essa prematuridade? De inúmeras causas, algumas delas são muito prevalentes e são o foco da nossa vigilância, como as doenças hipertensivas e diabetes durante a gestação. Essas gestantes, assim como as gestantes que têm infecção urinária, têm uma predisposição ao parto prematuro. Consequentemente, a criança nasce com o risco de todas essas complicações e do óbito”.

Outro ponto importante destacado na apresentação é que o aumento desses riscos está diretamente ligado às situações de vulnerabilidade, principalmente a socioeconômica que ocorre quando a gestante vive em um contexto no qual toda a população está em risco, como no caso de comunidades quilombolas, povos indígenas ou áreas rurais, onde o acesso aos serviços de saúde é limitado e outras dificuldades se somam. Ele também ressaltou que o contexto de violência, que no Cariri se manifesta de diferentes formas e com frequência preocupante, é outro fator que agrava o risco para a gestante. Ele mostrou dados preocupantes: 70% das mortes infantis ocorrem no primeiro mês de vida e, destas, 25% acontecem ainda nas primeiras 24 horas.

“Se associa a isso outros fatores de vulnerabilidade socioeconômica, de distância, de dificuldade de acesso para os serviços, de uma baixa escolaridade, isso tudo vai aumentando o risco dessa gestante e da sua criança sofrerem.  Se ela tem uma doença hipertensiva, ou diabetes, ou uma infecção urinária, isso aumenta ainda mais o risco. A gente precisa cuidar dessas gestantes aumentando a vigilância e o cuidado”.

Ele mostra que a  Gestão de Caso –  tecnologia utilizada na gestão clínica – é essencial e pode ser entendida como a aplicação de tecnologias de microgestão, chamadas assim porque acontecem no nível micro, ou seja, no cotidiano dos profissionais de uma Unidade Básica de Saúde (UBS). É nesse dia-a-dia que é possível acolherem gestantes, cuidarem delas, visitarem suas famílias em seu território e acompanharem cada caso de perto.

“Por isso, falamos em nível micro, com ações realizadas em cada UBS. É nesse contexto que as gestantes são identificadas e precisam receber cuidados adequados. A gestão clínica reúne diferentes tecnologias com a finalidade de assegurar um cuidado de qualidade, bom, ou até excelente para essas mulheres. Gosto sempre de lembrar a origem da palavra clínica: ela vem do verbo grego que significa “inclinar-se”, remetendo à postura de atenção e cuidado diante da pessoa assistida”.

Marco fala que, por isso, clinicar não é algo exclusivo do médico: fazer clínica e geri-la é responsabilidade de todos os profissionais. Quando se fala em gestão, é preciso pensar no conjunto de recursos e serviços necessários para atender uma gestante. É possível pensar em ampliar essa visão para um grupo de gestantes, considerando tudo o que ele demanda para receber um cuidado integral. Isso é fazer gestão, uma gestão centrada na clínica, nas necessidades de saúde e na evolução de cada situação e de cada pessoa.

“Para isso, utilizamos a gestão da clínica apoiada em um conjunto de tecnologias. A primeira delas são os protocolos ou diretrizes clínicas. Eles respondem ao questionamento de como cuidar de uma gestante. Não é algo inventado de forma aleatória — trata-se de um cuidado orientado por conhecimento científico, experiências consolidadas e práticas validadas.”

Estamos falando de cuidar da vida. A gestão de caso é um processo colaborativo que se estabelece entre um profissional — chamado gestor de caso — e uma pessoa com uma condição de saúde complexa, como a gestação, especialmente nas situações que mencionei anteriormente.

“O principal objetivo da gestão de caso é que esse profissional atue como um verdadeiro advogado em saúde dessa pessoa. No nosso exemplo, trata-se da gestante, mas também de sua família e de sua rede de apoio. Isso significa defender seus interesses, fortalecê-la para o autocuidado e ajudá-la a assumir responsabilidade pelo próprio bem-estar. Esse trabalho envolve a participação ativa da família e da comunidade próxima, a facilitação da comunicação com todos os prestadores de serviço de que ela necessitar e a coordenação do cuidado ao longo de toda a Rede de Atenção à Saúde”, finalizou.

A oficina ocorreu no âmbito da parceria entre a Secretaria da Saúde do Ceará com o Conass, com a população local e com o projeto De Braços Abertos: um compromisso conjunto de agir com agilidade em prol da vida, unindo esforços de profissionais de saúde e da comunidade. 

Confira a apresentação na íntegra:

Assessoria de Comunicação do Conass