A menina Alice Silva foi o primeiro bebê nascido em 2020 na maternidade da Fundação Santa de Misericórdia do Pará (FSCMP), em Belém. A mãe, Roseane Silva, moradora da Ilha de Guajarazinho, no município de Abaetetuba (região do Baixo Tocantins), veio para a capital após o diagnóstico de plaquetopenia, que aumenta o risco de hemorragia no parto. Ela contou que fez todo o pré-natal corretamente e apresentou um quadro de anemia logo no início da gravidez, que mesmo sendo tratado reapareceu ao final da gestação. “Fiz os exames, levei para o médico e ele me recomendou a cesárea. Não era o que eu desejava, mas precisava fazer o melhor por ela”, disse a parturiente.
A mãe de Alice aprovou o atendimento recebido na Santa Casa e reforçou a importância dos cuidados na gravidez. “É muito importante fazer o pré-natal, pois mesmo fazendo tudo direitinho às vezes acontece um imprevisto. Que elas procurem o serviço de saúde para se cuidar e se preparar para ser mãe”, aconselhou, com a filha no colo.
De acordo com a Diretoria de Política de Atenção Integral à Saúde (Dpais), da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), o quadro de plaquetopenia exige cuidados, pois hemorragia é um das principais causas de morte materna no Estado, além de doença hipertensiva da gravidez e infecções puerperais, que ocorrem após o parto.
Redução – O Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, em 2017 registrou 129 óbitos de mulheres no Pará por complicações relacionadas à gravidez ou ao parto. Dados preliminares indicam que, em 2018, foram registrados 96 mortes, e até novembro de 2019 foram 91. De acordo com a Sespa, O sistema é atualizado mensalmente, mas tem um período de até 2 anos para ter a consolidação dos dados finalizadas.
A diretora Sâmia Borges explicou o impacto da morte de uma mãe, antes ou depois do parto. “Isso desestrutura uma família e quando o Governo do Pará, por meio da Sespa, desenvolve propostas para a redução de morte materna é para ofertar cidadania para essas pessoas. Uma sociedade que não faz o mínimo de cuidar de suas mulheres para ter um parto seguro, está negando um direito. Precisamos fortalecer a Rede de Atenção Materno Infantil do Estado para ter esse direito garantido”.
As ações do Pacto pela Redução da Mortalidade Materna são baseadas em cinco componentes: gestão, assistência ao pré-natal, assistência ao parto, investigação do óbito e planejamento sexual e reprodutivo. Em setembro de 2019, foi publicada uma portaria no Diário Oficial do Estado sobre o cofinanciamento estadual da atenção primária em saúde, autorizando o repasse de R$ 24 milhões para os municípios, para os municípios focarem na redução da mortalidade materna. Dos 144 municípios paraenses, apenas a capital, Belém, ainda não aderiu ao Pacto.
Entre as principais metas estão a captação precoce do pré-natal (com início antes da 12ª semana de gestação); vacinação de grávidas em dia; realização de no mínimo sete consultas pré-natais, com oferta de consultas, exames e terapias necessárias e antecipação do prazo de 120 para 30 dias da investigação do óbito em idade fértil, além do indicador de mortalidade materna em si (medido por região, e não por município, como as demais).
“A gente enxerga a mulher não apenas como um número. Ela tem família, rosto e uma história. Queremos que sejam felizes. O nosso trabalho foi iniciado em 2019 com a oferta de qualificações profissionais na atenção primária, para dar uma assistência de pré-natal com qualidade, com consultas, exames e medicações preventivas. Quanto ao parto, com o acesso à maternidade, atendimento de qualidade e que saia para os cuidados de puerpério com seu bebê. E ainda que, após isso, consigamos ofertar um planejamento sexual e reprodutivo adequado”, complementou Sâmia Borges.
Referência – Em 2019 foram realizados partos em 156 unidades hospitalares no Pará, entre públicos e privados. De acordo com a Diretoria de Políticas de Atenção Integral à Saúde (Dpais), um dos objetivos para a redução da morte materna é a vinculação, desde o pré-natal, da grávida à maternidade que ela deve se dirigir para parir.
A rede estadual foi fortalecida com a inauguração do Hospital Abelardo Santos, em Icoaraci (distrito de Belém). Além dele, o Hospital Materno-Infantil de Barcarena, a Fundação Hospital de Clínicas Gaspar Vianna e a Santa Casa são referências para casos obstétricos.
De acordo com a médica Monick Calandrini Rodrigues, que coordena o setor de Terapia Renal Substitutiva Pediátrica da Fundação Santa Casa, o ano de 2019 foi de conquistas para a Santa Casa. De janeiro a novembro de 2019, foram realizados 9.444 partos. Deste total, 4.438 foram normais e 5.006 cesáreos. São 250 partos a mais do que os realizados neste mesmo período em 2018. A unidade de saúde recebe pacientes de diversos municípios. Até novembro de 2019, a área de Urgência e Emergência Obstétrica realizou 41.562 atendimentos, uma média de 3,7 mil por mês.
“Ela tem um perfil materno-infantil, além de ser um hospital de ensino e pesquisa. Foi um ano de muitos ganhos, com alguns serviços transferidos para a Santa Casa, como o de atendimento a fissurados – com fenda palatina -, e a realização de mutirões cirúrgicos em crianças. Em novembro, também tivemos o primeiro transplante renal pediátrico a partir de doador vivo, e fomos agraciados, antes do final de 2019, com outro transplante em um paciente de 16 anos, de doador falecido”, informou Monick Rodrigues.
TEXTO: Dayane Baía (SECOM)