Para debater as perspectivas da Política Nacional de Atenção Especializada, a forma de organizar os serviços, a formação de profissionais dessa área, em especial em regiões de difícil acesso, as estratégias de saúde digital e inovação, o secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde, Helvécio Miranda, participou da II Conferência Nacional da Planificação da Atenção à Saúde. “Queremos mostrar a todos que estão nesta Conferência que estamos trabalhando cada vez mais juntos com a Atenção Primária. Assim, a Atenção Especializada vai funcionar cada vez melhor”, disse.
Helvécio contou que as contribuições do Conass e Conasems foram fundamentais para a construção da Política Nacional de Atenção Especializada em Saúde (PNAES). “É um reconhecimento, porque sem a contribuição dos técnicos e gestores de saúde dos Conselhos e do Ministério da Saúde, não teríamos avançado com o documento”, disse.
Para o secretário, o Ministério da Saúde tem importante papel de monitorar e avaliar as ações e serviços de Atenção Especializada à Saúde, em consonância com a PNAES, para promover melhorias contínuas da tríade atenção-gestão-ensino, bem como para o fortalecimento do papel dos serviços na Rede de Atenção à Saúde (RAS).
A moderadora da mesa, Tânia Mara Coelho, vice-presidente do Conass, observou que entre os desafios da Atenção Especializada, está a renovação da formação dos médicos. “É preciso ter uma visão da integralidade, não aprendemos que temos que trabalhar em consonância com a Atenção Primária à Saúde e isso deve ser posto no ensino de hoje”, disse.
Miranda corroborou e também falou que é necessário ter um processo de avaliação e monitoramento permanente das RAS e das certificações de ensino. “Temos que fazer isso conjuntamente, Conass, Conasems e ministério, para que possamos monitorar, avaliar e pensar em outras iniciativas na área de Atenção Especializada”, falou.
Sobre as questões relacionadas à qualidade do atendimento e ao seu bom resultado na expectativa dos usuários, ele falou que ainda tem muitos desafios existentes na gestão, na regulação e no controle do sistema. “A produção do cuidado com formatos antigos, ultrapassados, que não favorecem uma adequada relação sinérgica entre os níveis de Atenção”, contou.
A importância da transformação digital para os sistemas de saúde
Os desafios da transformação digital dos sistemas de saúde, suas performances, potencialidades e novos avanços foram abordados hoje, durante a apresentação do professor Rifat Antun, na mesa que debateu a saúde digital na Conferência.
A partir de exemplos da Índia e da Malásia, países populosos e com grande desigualdade social como o Brasil, o professor demonstrou como a implementação de sistemas que gerenciam a saúde a partir do uso de inteligência artificial e da análise de dados, podem auxiliar na otimização de recursos e em tomadas de decisões baseadas em evidências mais robustas. “O Brasil, assim como esses países asiáticos que citei, tem grande potencial para a implementação de um sistema como esse, principalmente porque tem o Sistema Único de Saúde (SUS), que é uma instituição incrível para o mundo inteiro”. destacou.
Antun, que é professor de Sistemas de Saúde Globais e Diretor do Laboratório de Inovação de Sistemas de Saúde da Universidade de Harvard, disse ser iminente a necessidade de transformação digital nos sistemas de saúde, pois os dados são muitos, mas têm baixa qualidade e não são integrados. “A informação é limitada e o conhecimento é insuficiente. O que precisamos fazer é ter uma melhor coleção de dados para ter uma melhor saúde digital e assim transformar o sistema como um todo”.
O professor afirmou ainda que o Brasil não está sozinho. Com dados de países ricos como Alemanha e Finlândia, Antun explicou que o problema de análise de dados não é um privilégio de países de terceiro mundo, sendo muito observado também em países europeus com renda per capita mais alta, como os citados acima.
Para ele, é preciso lançar mão das novas tecnologias disponíveis para analisar a genética de cada indivíduo, seus dados socioeconômicos, principalmente no Brasil que é um país desigual, combinando essas informações e disponibilizando-as em toda a jornada do usuário dentro da rede de saúde. “Queremos fazer esse serviço integrado e ligado a todos esses aspectos durante o percurso do paciente”.
Antun enfatizou que é um processo complexo que há dois anos, por exemplo, não seria possível, mas atualmente com a inteligência artificial e com a triagem correta de cada grupo, o processo se torna mais fácil possibilitando um cuidado mais efetivo e utilizando os recursos em saúde de forma mais direcionada.
O diretor do Departamento de Monitoramento, Avaliação e Disseminação de Informações Estratégicas em Saúde da Secretaria de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde, Paulo Sellera, reconheceu o problema em relação ao grande volume de dados, baixo volume de informações e baixo conhecimento para a tomada de decisão.”Este é um desafio do mundo, e no Brasil não é diferente”, afirmou.
No entanto, fez uma ressalva sobre a possibilidade da Atenção Primária à Saúde proporcionar uma mudança nesta situação a partir da sua prática ao conhecer o cidadão, o território, o planejamento com base no conhecimento das condições de saúde e dos cidadãos. “Aposto muito que APS no Brasil, pela experiência do Programa Saúde da Família, tem condições de ter essa visão diferenciada do cidadão e dos seus territórios e essa expertise pode dar muitos frutos para as Américas e para o restante do mundo, como foi colocado pelo professor”, concluiu.
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