Durante a III Conferência Nacional da Planificação da Atenção à Saúde e o I Encontro Internacional de Promoção da Saúde, foi gravado o programa interativo Sala de Convidados, do Canal Saúde (Fiocruz), com transmissão ao vivo. O programa apresenta projetos, políticas públicas e temas atuais da saúde, com foco na disseminação de informações e na promoção do debate sobre o Sistema Único de Saúde (SUS) e o bem-estar da população.
Nesta edição especial, a apresentadora Yasmine Saboya destacou como a Planificação da Atenção à Saúde pode contribuir para a organização da Atenção Primária à Saúde, tornando os serviços públicos mais eficientes e humanizados. “Há 30 anos, o Canal Saúde discute o sistema de saúde e as políticas públicas que impactam diretamente o SUS. Por isso, é um prazer estar neste evento de grande relevância, falando sobre um projeto tão importante para a população brasileira”, afirmou.
Para aprofundar o debate, o programa contou com a participação do consultor do Conass, Eugênio Vilaça, da secretária de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde, Ana Luiza Caldas, e do médico oncologista, cientista e escritor, Drauzio Varella, que discutiram os desafios e avanços da Planificação no país.
Eugênio iniciou contando um pouco da história como médico e sanitarista. “Na minha época de atuação, em 1979, não existia o cuidado que temos hoje. Foi nessa época que tentei criar uma linha de cuidado para o sistema de saúde. Hoje, não enfrentamos problemas de acesso, temos mais médicos, e muitas faculdades de medicina, mas ainda pecamos na qualidade”, disse.
Drauzio corroborou com a fala de Eugênio, afirmando que, na época dele, não havia nenhum cuidado de saúde na Zona Leste de São Paulo. “Não tínhamos acesso a vacinas e cuidados básicos. E hoje temos o SUS, que representa a maior revolução da medicina brasileira, nenhum outro país ousou fazer o que fizemos”, destacou.
No contexto daquela época, Eugênio contou que houve mudanças demográficas, tecnológicas, geográficas e de financiamento. “Hoje, no Brasil, a carga de doenças crônicas é muito grande, mas nosso sistema continua o mesmo de 50 anos atrás para tratar algumas doenças. O problema não é apenas investir dinheiro, embora isso seja necessário, mas também a incapacidade do sistema de enfrentar a epidemia de condições crônicas. Temos dificuldade de manejar essas condições”, contou.
Para Ana Luiza, em termos de mudanças que não havia antes, hoje já existe com o Programa Saúde da Família. “Conseguimos oferecer mais assistência e, olhando o panorama geral, melhoramos bastante. Isso não significa que o sistema está perfeito ou que não precisamos avançar, mas houve progresso significativo em termos de acesso com qualidade”, comentou.
Ana Luiza contou que hoje não existe nenhum modelo com o SUS. “Não conheço um modelo que trabalhe com a lógica de ser um sistema gratuito e universal que preze pela equidade como o nosso. Temos questões territoriais e um modelo com muitas equipes, mas a lógica do vínculo e da qualidade precisa ser fortalecida. Estamos discutindo como remodelar e trazer novas diretrizes, incorporando a saúde digital para melhorar a atenção primária de qualidade, remodelar e trazer novas diretrizes, incorporando a saúde digital para melhorar a atenção primária”, explicou.
Logo em seguida, Drauzio trouxe o problema do financiamento, mas afirmou que não é o único. Para ele, estamos vivendo uma situação epidemiológica diferente: os brasileiros envelhecem, mas com saúde precária, chegando aos 60 anos com hipertensão, diabetes, etc. “Não haverá dinheiro suficiente para tratar todos, nem no SUS, nem na saúde suplementar. Com o envelhecimento da população, a demanda por saúde aumenta e a figura mais importante para lidar com essa situação é o agente de saúde. Ele é fundamental na atenção primária. Para resolver os problemas, precisamos de equipes bem treinadas”, avaliou.
Segundo ele, o agente de saúde conhece a comunidade, pensa em soluções práticas que médicos e enfermeiros podem não perceber. Toda atenção deve se concentrar na Estratégia Saúde da Família, sem ela, não existe saúde pública no Brasil.
Ana Luiza ressaltou que para que a atenção primária seja resolutiva, é preciso ouvir os territórios, investir em diagnóstico e pensar a médio e longo prazo, principalmente no papel dos agentes de saúde “Nem sempre mais consultas resultam em melhores resultados, às vezes, uma boa escuta é mais eficaz. Os usuários precisam ser ouvidos”, comentou.
Ela disse ainda que é importante regular o acesso a hospitais, centros de reabilitação e oncológicos, mas a atenção primária resolutiva é essencial. “Hoje a Planificação ajuda a integrar atenção primária e especializada”, disse.
Eugenio trouxe que os modelos na atenção primária precisam ser transformados. “Não se trata apenas de formar mais médicos, mas de desenvolver modelos assistenciais integrados. Quando mudamos o modelo para integrar atenção primária e especializada, conseguimos resultados concretos”, finalizou.
Drauzio finalizou dizendo que a tecnologia veio para ajudar muito, mas com ela os custos da medicina aumentaram. “Não resolveremos esse problema apenas com mais dinheiro, precisamos entender que o Brasil é um país muito grande, com um sistema complexo e desigual e não resolveremos tudo em curto prazo, por isso, é essencial investir na atenção primária”, enfatizou.
Ele finalizou dizendo que a atenção primária é mais completa, envolve médicos, enfermeiros e agentes de saúde, e é mais barata e eficiente. “Não precisamos reinventar o sistema de saúde, apenas organizá-lo melhor. O sistema não pode ter múltiplas portas de entrada, precisamos de uma ou duas, para que as pessoas entendam como entrar e sair do SUS. Temos um bom sistema, mas ele precisa ser reorganizado”, finalizou.
O bate papo estará disponível para visualização após a transmissão original e podem ser assistidos na playlist oficial do Canal Saúde no YouTube. O acervo completo de vídeos do programa está disponível para acesso no Campus Virtual Fiocruz.
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Assessoria de comunicação do Conass