Renageno completa dez anos

A avaliação da resistência do uso dos antirretrovirais completa dez anos no país. Para comemorar a data, o Ministério da Saúde reuniu hoje, em Brasília, médicos e pesquisadores que fizeram parte dessa história. Na ocasião, foram lançados também os novos alvos, um novo desafio para a Rede Nacional de Genotipagem (Renageno).

“Além celebrar esse feito da política do Sistema único de Saúde (SUS) de enfrentamento da epidemia de aids, o encontro é uma oportunidade de debater desafios e conquistas nesses dez anos. Também serão definidos novas estratégias de identificação do uso racional dos medicamentos antirretrovirais no pais, coma adoção de novos alvos de genotipagem”, explica Dirceu Greco, diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais.

O Brasil distribui medicamentos para tratamento de aids desde 1996. A alta variabilidade genética do HIV provoca a seleção de vírus resistentes aos medicamentos. Diante desse panorama, o Ministério da Saúde em conjunto com um grupo de pesquisadores brasileiros percebeu a necessidade de implantar no país um sistema de avaliação e monitoramento da resistência viral ao uso dos medicamentos antirretrovirais. Estabelecida como política nacional em 1999, a Rede Nacional de Genotipagem iniciou seu funcionamento operacional como rede com 12 laboratórios em 2001.

Pedro Chequer, atual coordenador no país do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV e Aids e diretor do Programa Nacional de DST e Aids na época do lançamento da RENAGENO em 2001, elogia o pioneirismo do país em relação aos outros países. Segundo Chequer, dificilmente em outros países do mundo encontra-se estabelecida uma tecnologia de ponta como a que a RENAGENO desenvolve no país. “E isso graças à decisão política do governo brasileiro e ao aporte tecnológico constantemente renovado fornecido pelos laboratórios e comitês científicos e técnicos que permitem ao Brasil alcançar um patamar de alto nível alcançado pela RENAGENO”, explica Pedro Chequer.

Segundo Dirceu Greco, “a consolidação da rede de genotipagem permitiu que hoje os testes sejam oferecidos em uma rede que reúne 23 laboratórios que cobrem todas as regiões do país. São laboratórios de fundações e universidades públicas brasileiras que realizam a cada ano,cerca de 6 mil testes, que são importante instrumento para nortear os médicos sobre a escolha do melhor esquema terapêutico para o paciente”.

É a partir da realização de exames que detectam as mutações do vírus da aids (resistência genotípica) que o médico de referência em genotipagem poderá reorientar o tratamento em caso de falha terapêutica possibilitando nova terapia de resgate. A rede possibilita que pacientes de todo o país possam ser acompanhados de forma que as mutações genéticas do vírus possam ser monitoradas. Estima-se que de 20 a 30% dos pacientes podem apresentar mutações de resistência aos medicamentos, o que lhes permite terem acesso aos testes de genotipagem.

Novos Alvos – Os novos medicamentos antirretrovirais atacam o vírus em regiões diferentes das inicialmente atingidas nos medicamentos mais antigos. Diante dessas inovações, faz-se necessário o desenvolvimento de novos alvos de genotipagem, ou seja, metodologias que abarquem as novas regiões do vírus atingidos pelas drogas mais recentes.

A genotipagem para novos alvos foram baseadas em pesquisas desenvolvidas por laboratórios brasileiros. Não existem testes comerciais disponíveis no mercado mundial que detectem esse novos alvos. Para o diretor Dirceu Greco, ”Trata-se de uma grande inovação e desafio para a ciência brasileira, pois não existe no mundo nenhum kit produzido por indústria que possam fazer essa testagem de genotipagem”.

Três grupos de pesquisadores brasileiros desenvolveram protocolos para os medicamentos que atingem novas regiões. O laboratório de Imunologia e Aids da Fiocruz do Rio de Janeiro desenvolveu o protocolo para o inibidor da integrase, o Laboratório de Dermatologia Médica (LIN 56) da Faculdade de Medicina de USP São Paulo desenvolveu o protocolo para o inibidor de fusão Enfuvirtida (T20). Essas são as novas drogas de resgate incorporadas recentemente pelo consenso para pacientes em falha terapêutica. O Laboratório de Retrovirologia da UNIFESP de São Paulo desenvolveu o protocolo para análise genética da alça C2V3, região de medicamento ainda não incorporado ao consenso brasileiro.

Fonte: Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais