Profissionais das Secretarias Estaduais de Saúde participaram, esta semana, da reunião conjunta das Câmaras Técnicas do Conass de Epidemiologia e Vigilância em Saúde Ambiental.
A coordenadora técnica do Conass, Rita Cataneli, agradeceu a presença dos participantes e destacou a importância de promover discussões sobre temas sensíveis da vigilância em saúde, especialmente neste período que antecede as chuvas, marcado por maior risco de dengue e outros agravos. “Este é um momento importante para refletirmos sobre os desafios que se intensificam com a chegada do período chuvoso e para reforçarmos a atuação integrada na vigilância em saúde”, afirmou.
Ao abordar os desafios e a relevância das doenças negligenciadas, Rita ressaltou o fortalecimento da área de vigilância e a necessidade de ampliar o debate sobre o tema no país. “Precisamos dar voz às doenças negligenciadas e trazer essas pautas para o centro das discussões da saúde pública no Brasil”, completou.
Para Nereu Henrique Manso, coordenador da Câmara Técnica de Epidemiologia, a Doença de Chagas é um tema negligenciado que não tem recebido a atenção necessária nas reuniões. “A busca por alternativas de enfrentamento deve vir de uma debate conjunto, com base nas nossas realidades epidemiológicas e nos desafios que enfrentamos cotidianamente”, enfatizou.
O coordenador de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial do Ministério da Saúde, Francisco Edilson, alertou para o aumento progressivo dos casos de Doença de Chagas aguda. “Nos últimos anos a doença vem se concentrando principalmente na Região Amazônica, responsável por cerca de 90% dos casos”, alertou.
Ele explicou que a Doença de Chagas permanece entre as principais causas de mortalidade por doenças infecciosas no Brasil, com cerca de 4 mil óbitos por ano, embora essa taxa apresente tendência de queda. Segundo ele, as metas de médio prazo do Ministério da Saúde incluem manter a eliminação da transmissão vetorial, reduzir os casos agudos na Amazônia e ampliar a detecção e o cuidado integral das pessoas com Chagas crônica, com atenção especial à transmissão vertical, de mãe para filho.“Entre as ações em desenvolvimento, o Ministério da Saúde tem reforçado a mobilização em torno do Dia Mundial da Doença de Chagas, celebrado anualmente, e em 2025 adotou o tema Da educação ao cuidado: unidos contra a Doença de Chagas para que ela não chegue à sua mesa, com foco na prevenção da transmissão oral”, afirmou.
Outras iniciativas destacadas incluem o fortalecimento dos movimentos sociais ligados à doença, o aperfeiçoamento do sistema de notificação e a estruturação da linha de cuidado para as pessoas afetadas pela Chagas.
A diretora de Vigilância das Doenças Vetoriais e Zoonoses da Secretaria de Estado da Saúde do Tocantins, Mary Ruth, apresentou a experiência do estado. Segundo ela, o estado faz uma vigilância passiva, que conta com a participação da comunidade e de agentes comunitários de saúde e foi destacada como o “padrão ouro” na detecção de vetores.
A pesquisadora Andréa Silvestre, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas da Fiocruz, responsável pelos projetos CUIDA Chagas e Integra Chagas Brasil, ressaltou a importância de integrar vigilância e assistência no enfrentamento da doença. Ela explicou que os projetos têm como objetivo ampliar o acesso ao diagnóstico e ao tratamento, além de superar barreiras históricas que dificultam o cuidado integral, abordando a enfermidade como um problema de populações negligenciadas.
Esporotricose
A esporotricose é uma micose subcutânea causada por fungos do gênero Sporothrix, que penetram no organismo principalmente por meio de pequenas lesões na pele ou mucosas. A infecção pode ocorrer após acidentes com espinhos, palha ou lascas de madeira, contato com vegetais em decomposição ou, ainda, por arranhadura e mordedura de animais doentes, sendo o gato o mais comum.
Luiza Harada, da coordenação de Tuberculoses, Micoses Endêmicas e Micobactérias Não Tuberculosas do Ministério da Saúde, apresentou o panorama da doença e destacou que a esporotricose é atualmente a micose de implantação mais prevalente no país. Segundo ela, está presente nas cinco regiões do Brasil, a doença tem no Sporothrix brasiliensis – um fungo comumente encontrado no solo, principal espécie causadora, responsável por mais de 90% dos casos.
Durante o debate, o grupo levantou uma série de questões para orientar novos estudos sobre a doença, como a análise do custo-efetividade das ações de controle e a avaliação de como o tratamento e a castração de animais podem influenciar a incidência de casos em humanos.
Outros Temas
No final do dia, os assessores também discutiram temas como o Treinamento em Gestão de Emergências em Saúde Pública no Sistema Único de Saúde e a Estratégia Estadual de Autoavaliação das Capacidades do Regulamento Sanitário Internacional no âmbito estadual.
Câmara Técnica de Epidemiologia
No segundo dia do encontro, os grupos se separaram, os assessores da Câmara Técnica de Epidemiologia, debateram as meningites, a situação epidemiológica atual e o relato sobre surtos de doença meningocócica registrados nos estados de Alagoas e Pará. Também foi compartilhado um breve panorama do Workshop Organização Pan-Americana da Saúde de Meningite, que tratou do Planejamento Estratégico de Vigilância 2025-2030, além das ações em andamento para derrotar as meningites até 2030.
Outro ponto debatido foi o processo de descentralização e transformação digital dos Centros de Referência em Imunobiológicos Especiais, conduzido pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Em seguida, a secretaria de saúde de Goiás apresentou o Sistema de Informação para Perdas Físicas de Vacina, desenvolvido para aprimorar o monitoramento e a gestão dos imunobiológicos.
Também foram apresentados os resultados da avaliação dos indicadores do Programa de Qualificação das Ações de Vigilância em Saúde referentes a 2024, e o panorama da vacinação contra o HPV, com dados sobre a situação atual e o perfil genotípico do vírus no Brasil.
Câmara Técnica de Vigilância em Saúde Ambiental
Já na Câmara Técnica de Vigilância em Saúde Ambiental, coordenada pelo assessor técnico do Conass, Fernando Avendanho, o foco foi a preparação dos estados para os eventos climáticos e seus impactos na saúde, como secas, enchentes e ondas de calor. O debate contou com a apresentação de experiências estaduais de Mato Grosso do Sul, de São Paulo e do Rio de Janeiro.
O coordenador de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial do Ministério da Saúde, Francisco Edilson,abordou o Plano Nacional de Uma Só Saúde e a organização dos estados no enfrentamento integrado entre saúde humana, animal e ambiental.
A programação incluiu ainda discussões do Plano Setorial da Saúde (AdaptaSUS) – um plano do Ministério da Saúde para adaptar o Sistema Único de Saúde aos impactos das mudanças climáticas, com metas e estratégias para o período de 2025 a 2035.