Pesquisadores do Cidacs/Fiocruz Bahia lançam medida capaz de avaliar e monitorar desigualdades sociais no Brasil em pequenas áreas dentro dos municípios. Índice ajudará gestores públicos, pesquisadores e sociedade civil
As mais de 300 mil pequenas unidades territoriais que compõem o Brasil, os chamados setores censitários, agora podem ser analisadas quanto ao nível de desigualdade socioeconômico. Uma nova medida foi elaborada por pesquisadores do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde, o Cidacs/Fiocruz Bahia, em parceria com a Universidade de Glasgow (Escócia). Segundo o Índice Brasileiro de Privação (IBP), as regiões
Norte e Nordeste no Brasil concentram a maior parte das unidades territoriais com maior privação material no país. O Índice será lançado em evento online no dia 9 de dezembro de 2020, às 15h. Inscreva-se aqui: https://bit.ly/3mV2TRF
“O IBP é uma medida para avaliar a privação material da população brasileira no menor espaço geográfico possível: os setores censitários”, explica uma das líderes da pesquisa e vice-coordenadora do Cidacs Maria Yury Ichihara. A epidemiologista aponta que o novo índice poderá ajudar a melhorar a focalização da análise das desigualdades, das intervenções e políticas públicas, além de trazer a possibilidade de monitorar progressos dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) na Agenda 2030.
Para a elaboração do Índice, os pesquisadores percorreram uma jornada de cerca de dois anos de trabalho, que incluíram investigadores de universidades brasileiras e da Universidade de Glasgow, com financiamento do National Institute for Health Research (NIHR). Um levantamento de outros índices municipais e estaduais no Brasil, como o Índice de Vulnerabilidade da Saúde de Belo Horizonte e o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social, e de iniciativas semelhantes em outros países no mundo, como Reino Unido, Austrália, Argentina, África do Sul, entre outros, também foi realizado e ajudou nos processos de criação e de validação do IBP.
“Em nosso levantamento, percebemos que não existe no Brasil um índice tão abrangente. Esta medida será muito importante para monitorarmos a desigualdade que acontece em áreas pequenas e planejarmos caminhos para termos uma equidade de condições de saúde, por exemplo”, defende Maria Yury.
Redução das desigualdades pode diminuir taxas de mortalidade infantil
Uma das principais aplicações do IBP entre os pesquisadores do Cidacs tem sido a correlação entre condições de saúde e as desigualdades sociais. Ao combinar a análise dos setores censitários com as ocorrências de saúde geolocalizadas, é possível identificar óbitos e doenças que podem ter ocorrido pela situação socioeconômica de grupos de indivíduos.
O pesquisador do Cidacs Elzo Pereira Pinto Júnior aponta em análises prévias, utilizando o IBP e os dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), que muitos óbitos em crianças poderiam ser evitados se as condições socioeconômicas, medidas pelo IBP, e o acesso aos serviços de saúde fossem melhores. Mesmo considerando que alguns dados têm problemas de registro e não puderam ser utilizados, o pesquisador descobriu que municípios com alto nível de privação têm seis vezes mais chances de terem uma taxa de internação por gastroenterites por crianças menores de um ano do que outros que têm baixa privação.
“Estimativas da Unicef apontam que a mortalidade na infância vem reduzindo ao longo do tempo em todo o mundo e no Brasil também. No entanto, persistem grandes desigualdades em contextos intramunicipais nas condições de vida e saúde da população que impactam na mortalidade na infância”, analisa Elzo.
Além do apoio em análises da mortalidade infantil nas pequenas áreas, os pesquisadores apontam outros usos potenciais do IBP quando combinados com outros dados. Entre eles estão as arboviroses, a violência, saúde mental, infecções sexualmente transmissíveis, tuberculose, hanseníase, doenças crônicas e fatores de risco.
Usuários também podem visualizar níveis de privação por municípios. Veja o ranking de municípios brasileiros
Um painel de visualização estará disponível ao público após a cerimônia de lançamento do IBP. O usuário poderá navegar no mapa do Brasil e visualizar o nível de privação material por setor censitário ou por município. Os cinco níveis variam de muito baixo até muito alto. Gráficos e indicadores renda, escolaridade e condições de moradia também estarão disponíveis. Pesquisadores e gestores também poderão ter acesso aos dados compilados para análises mais avançadas.
Uma observação das desigualdades entre os municípios brasileiros, de acordo com o IBP, mostra que no ranking dos cinco municípios, todas no Norte-Nordeste, com maior nível de privação material estão Massapê do Piauí (PI), Melgaço (PA), Ipixuna (AM), Marajá do Sena (MA) e Belágua (MA). Por outro lado, entre os cinco municípios com menor privação material estão São Vendelino (RS), Westfalia (RS), São Caetano do sul (SP), Balneário Camboriú (SC) e Águas de São Pedro (SP).
A construção e o futuro do IBP
A elaboração da medida envolveu uma série de cálculos estatísticos que combinou dados do Censo do IBGE de 2010 sobre renda, escolaridade e condições de moradia. Segundo os pesquisadores, estas três dimensões, calculadas a partir dos dados do censo, permitiram a abrangência nacional da medida.
Para o futuro, os participantes da pesquisa esperam que o Censo 2020, que foi adiado por conta da pandemia, seja realizado para que haja a atualização da medida.
Evento de lançamento
Estão abertas as inscrições para o lançamento do Índice Brasileiro de Privação (IBP), que acontece no dia 9 de dezembro de 2020, às 15h, em evento online. (Inscrições: https://bit.ly/3mV2TRF) Entre os participantes da mesa de abertura estão: Nísia Trindade (Fiocruz), Alastair Leyland (Universidade de Glasgow), Wilames Freire (Conasems) e Gulnar Azevedo (Abrasco). A mediação será feita por Maurício Barreto (Cidacs/Fiocruz Bahia). Logo após, o webinário “Índice Brasileiro de Privação (IBP): medindo desigualdades sociais em pequenas áreas no Brasil” terá como palestrantes Paulo Gadelha (Fiocruz), Mirjam Allik (Universidade de Glasgow), Elzo Júnior (Cidacs/Fiocruz Bahia), Regina Bernal (UFMG). A mediação será feita por Maria Yury Ichihara (Cidacs/Fiocruz Bahia).
Mais informações:
Raiza Tourinho
Núcleo de Comunicação do Cidacs/Fiocruz Bahia
71 98108-1588
Adalton dos Anjos Fonseca
Núcleo de Comunicação do Cidacs/Fiocruz Bahia
71 98863-6430