Programa de Cirurgia Bariátrica bate recorde e opera mais de 500 pacientes

Pioneiro em cirurgia de redução de estômago por videolaparoscopia pelo SUS, Hospital Carlos Chagas já atende menores de 18 anos e maiores de 65

SES/RJ

São mais de 500 histórias com o mesmo desfecho: pacientes mais saudáveis recuperando qualidade de vida, perdida com a obesidade. Um dos projetos de maior sucesso da Secretaria Estadual de Saúde, o Programa de Cirurgia Bariátrica do Hospital Estadual Carlos Chagas, operou esta semana seu 500º paciente. Implantado em dezembro de 2010, o programa do Governo do Estado fez mudar um cenário no Rio de Janeiro: um crescimento de mais de 3.000% no número de cirurgias realizadas pelo SUS em pacientes de todo o estado. Juntos, os pacientes que operaram no projeto já perderam mais de 3,5 toneladas.

De acordo com estudo divulgado esta semana pelo Ministério da Saúde, a proporção de pessoas acima do peso no Brasil, avançou de 42,7, em 2006, para 48,5 em 2011. Verificou-se também que na faixa de 10 a 19 anos o percentual de 21,7% dos brasileiros apresenta excesso de peso – em 1970, este índice estava em 3,7%, o que justifica a diminuição da idade mínima.

– Operar 500 pacientes significa o resgate da vida social de 500 pessoas, mais ainda, de 500 famílias. Muitos pacientes obesos se consideram excluídos socialmente, excluídos do convívio familiar, perdem emprego, perdem a oportunidade de aproveitar bons momentos que a vida proporciona. A cirurgia é a oportunidade que eles têm de recuperar esses bons momentos – afirma o coordenador do programa Cid Pitombo.

No programa estadual, Pitombo e sua equipe realizam 100% das cirurgias por videolaparoscopia, técnica menos invasiva e mais segura, que agiliza a recuperação e reduz o tempo de internação do paciente. O Hospital Estadual Carlos Chagas tem ainda UTIs exclusivas adaptadas para este perfil de paciente e com o único tomógrafo para obesos da América Latina, com capacidade para até 320 kg.

500º paciente – Paciente de número 500 no Programa, o técnico de enfermagem Valter José da Silva Esterlino estava tenso. Depois de tentar emagrecer por meio de vários métodos e tratamentos, Valter, que tem 135 kg, vê na cirurgia o início de uma nova vida. E nada melhor do que receber apoio de quem já viveu a mesma situação. O Eletricista Luiz Alberto Kron, de 21 anos, que já perdeu 70 kg, deu o incentivo que Valter precisava para entrar no centro cirúrgico tranquilamente.

– Sua vida vai mudar para melhor, pode ter certeza.  Tudo vai melhorar a partir de agora – disse o eletricista a Valter.

Valter justifica o fato de ele estar no Programa e diz o que mais quer com a cirurgia: viver de maneira saudável e livre de obstáculos que atrapalham seu trabalho, por conta da obesidade.

– Eu sou hipertenso e filho de pais diabéticos, então o medo de ficar doente é muito grande. Fora que sinto dificuldades no meu trabalho, falta um pouco de agilidade por causa do meu peso. Espero que tudo dê certo com esta cirurgia e que eu consiga trabalhar e viver melhor – revela.

Programa já atende jovens entre 16 e 18 anos –  Luiz Alberto, aliás, foi o primeiro menor de 18 anos a integrar o Programa do Rio de Janeiro. Antes mesmo da nova portaria, cerca de 10 pacientes entre 16 e 18 anos já eram acompanhados pela equipe  multidisciplinar, formada por médicos, psicólogos, assistentes sociais e enfermeiros. Mas, segundo Pitombo, a opção é por focar em atendimento preventivo para os adolescentes, ou seja, redução do peso com dietas. A procura de jovens de 16 a 18 anos pelo Programa Estadual de Cirurgia Bariátrica aumentou de 3% para 10%, em menos de um mês. A quantidade de interessados dobrou depois da recente divulgação de portaria do Ministério da Saúde, permitindo a realização da redução de estômago pelo Sistema Único de Saúde (SUS), para pacientes a partir dos 16 anos – a idade mínima era de 18. A tendência é que a demanda desta faixa etária aumente, segundo o médico Cid Pitombo, coordenador do projeto da Secretaria de Estado de Saúde realizado no Hospital Estadual Carlos Chagas.

– O motivo da opção prioritária pela não intervenção cirúrgica de imediato está relacionado aos eventuais danos psicológicos em pessoas tão jovens, além da questão da estrutura óssea em formação. Os adolescentes de menos de 18 anos são excluídos do nosso protocolo cirúrgico, inicialmente. Só operamos menores de 18 em situações extremas, em que adolescentes não conseguem, por exemplo, respirar direito, ou sofrem com a exclusão social que leva a  prejuízos psicológicos – explicou Pitombo.

O caso de Luiz Alberto Kron, de 21 anos, é emblemático. Ele começou a ser acompanhado pela equipe do programa estadual aos 17 anos, quando tinha 136 quilos (ele mede 1,75m), mas só aos 18 fez a cirurgia. Perdeu 70 quilos em  cerca de oito meses. Agora, aguarda uma nova intervenção, desta vez plástica, para retirada da pele excedente.

– Passaria por tudo novamente. Hoje estou mais disposto. Perdi, em peso, o equivalente a um Luiz Alberto – disse ele.

70% dos pacientes são mulheres – As mulheres representam a maioria dos pacientes no programa. Desde quando foi criado, o número de pacientes do sexo feminino é 70% superior. Livrar-se dos muitos quilos a mais, possibilitaram às mulheres outra qualidade e estilo de vida. Das 344 pacientes que participaram do Programa, 62% voltaram ao mercado de trabalho, depois de muitos anos desempregadas por conta do excesso de peso. A volta da autoestima faz com que muitas comecem um novo relacionamento, ou reatem os antigos, e 85% das pacientes melhoraram o desempenho sexual depois da cirurgia. Além disso, coisas simples como andar em transporte público, que parecia um suplício para algumas pacientes, hoje não é mais problema, 100% das pacientes relatam melhora nesta questão.
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Cirurgia sem fila de espera – Para se candidatar a uma cirurgia bariátrica no Programa do Estado, o paciente deve procurar um atendimento ambulatorial mais próximo de sua casa para que um médico faça uma primeira avaliação se a cirurgia é necessária ou não. Se a operação for indicada, o médico solicita uma segunda avaliação para a Central de Regulação de Cirurgia Bariátrica do Estado, que encaminha o pedido de forma online ao Hospital Estadual Carlos Chagas. O paciente é contatado e tem uma consulta de avaliação marcada. E, importante, não há fila de espera.

O paciente que tiver Índice de Massa Corpórea (IMC) dentro do indicado (maior que 40kg/m² ou maior que 35kg/m² quando associado a fatores de co-morbidade, como hipertensão e diabetes, entre outros), que preencham os pré-requisitos do Ministério da Saúde e não tiverem doenças graves associadas são avaliados, preparados e operados. A equipe do médico Cid Pitombo também acompanha todo o pós-operatório especializado, com orientações de nutricionista, psicólogo e avaliação periódica pelo cirurgião.