
Atuando no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), os agentes comunitários de saúde (ACS) atuando diretamente no território, junto às comunidades, e exercem atividades de prevenção de doenças e de promoção da saúde. O segundo boletim da pesquisa apresenta dados referentes às condições de trabalho desses profissionais nos meses de junho e julho de 2020 nos municípios de São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza, além de três cidades das regiões metropolitanas das respectivas capitais: Guarulhos, São Gonçalo e Maracanaú.
Segundo a coordenadora do estudo, o cenário apresentado no boletim é de comprometimento da segurança dos profissionais no período em questão:
“A quantidade e qualidade das máscaras cirúrgicas recebidas pelos ACS em junho e julho ainda eram inadequadas. Entre os 709 ACS que receberam máscaras cirúrgicas da Unidade Básica de Saúde, 302 (42,5%) afirmaram que a quantidade não foi suficiente, e quase a metade dos agentes (338) respondeu que a qualidade do material não é satisfatória para sua proteção. Há ACS que relataram não ter recebido máscara cirúrgica nesses meses. Outro achado relevante da pesquisa se refere à formação dos trabalhadores: 54,8% dos participantes dessa segunda fase do estudo afirmaram não terem tido nenhum tipo de formação ou treinamento sobre Covid-19. Além disso, 28,7% receberam alguma orientação, mas a consideraram insuficiente”.
Os dados também permitem observar outras questões importantes sobre as condições de trabalho e saúde dos ACS, como o sofrimento emocional. Segundo Mariana, dos 884 ACS que participaram da pesquisa, 538 (60,9%) enfrentaram a morte por Covid-19 de pessoas com quem mantinham vínculo.
Condições de saúde na atenção primária
O acompanhamento da situação de saúde dos ACS segue sendo realizado pelo grupo da Fiocruz e em breve novos dados poderão ajudar a traçar a evolução desse cenário ao longo dos meses seguintes. Mariana ressalta a importância desse trabalho junto aos ACS, uma vez que a atenção primária, em particular a Estratégia Saúde da Família, tem um potencial elevado de contribuição para o controle da Covid-19.
“Os agentes comunitários desempenham papel importante nas ações de vigilância em saúde e de prevenção da propagação do vírus pela sua atuação no cuidado longitudinal aos grupos prioritários”, explica a professora: “As pesquisas para analisar as condições de saúde e trabalho desses profissionais contribuem com o SUS, já que evidenciam a realidade desses trabalhadores que atuam em territórios marcados por desigualdades econômicas e sociais. Além disso, esses estudos afirmam a necessidade de se investir no SUS público e universal, a partir da estruturação de processos de trabalho e de formação profissional”.
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Por: Marco Rocha (Portal Fiocruz)